Segurança e bem-estar no trabalho desportivo
A aposta numa investigação centrada nas necessidades dos jogadores e atenta à sua preponderância na indústria do futebol tem levado a FIFPro – Sindicato Mundial dos Jogadores, a desenvolver alguns dos relatórios mais completos que já tive a oportunidade de utilizar na tomada de decisões e posicionamento a nível nacional.
Depois de um forte investimento na monitorização da sobrecarga competitiva e dos fatores que potenciam o aumento do risco de lesão, quebra de rendimento e problemas de saúde física e psicológica entre os jogadores, o relatório sobre segurança e bem-estar no local de trabalho, referente ao futebol masculino, é mais um documento estruturante.
Este estudo envolveu 41 sindicatos membros e permitiu ouvir muitos jogadores no ativo e retirados sobre o sentimento de segurança e bem-estar ao longo da carreira futebolística, a relação com dirigentes, equipas técnicas e adeptos.
Trata-se de um documento muito relevante sobre a preocupação crescente na maior parte dos países envolvidos com a normalização dos casos de violência física e verbal, o crescimento do sentimento de insegurança, a cultura de normalização de condutas violentas e as respostas deficitárias do sistema, bem como a falta de um envolvimento efetivo dos atletas nas medidas adotadas.
Se tivermos em conta que a Organização Internacional do Trabalho incorporou entre os direitos fundamentais de qualquer trabalhador, incluindo os desportistas, o ambiente saudável e seguro no local de trabalho, percebemos que esta necessidade de afirmação de um direito é também a constatação das múltiplas violações, num setor marcado pela volatilidade de espaços e condições de segurança entre jogos, treinos, viagens e concentrações, permeável a ataques imprevisíveis, vindos das bancadas, nos locais de treino ou no mundo digital.
Um setor pouco ágil no tratamento de situações de abuso e assédio laboral, como tantas vezes acontece nos casos de atletas forçados a enfrentar condições de trabalho indignas e discriminatórias, como fator de pressão para cederem nos seus direitos ou garantias laborais. Em Portugal não deixámos de dar nota de alguns avanços legislativos, sendo o trabalho que a APCVD tem vindo a desenvolver no terreno devidamente mencionado.
Esta semana quero reservar algumas linhas para um jogador especial, pela forma de estar, profissionalismo e consistência. Os 1000 jogos do João Moutinho são um número extraordinário, sendo igualmente um privilégio voltar a vê-lo nos relvados portugueses.
Estou certo de que não ficará por aqui e convicto, conforme admitido pelo próprio, de que o João reúne todas as condições para continuar a ter sucesso, quem sabe como um dos grandes treinadores da próxima geração. Deixo-lhe, neste momento especial, a minha homenagem.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (14 de janeiro de 2024)