Por mais do que vitórias
O Dia Internacional da Mulher, em 2024, ainda não foi comemorado com uma vitória coletiva para as jogadoras de futebol em Portugal. O tão esperado dia em que nos iremos livrar dos preconceitos e dúvidas que ainda existem, para abraçar a inevitabilidade de estabelecer condições laborais mínimas para todas. Não tenho dúvidas de que esse dia chegará. Ter um contrato de trabalho e condições para viver do futebol será uma realidade ao alcance de muitas mais e olharemos para o caminho com a certeza de que valeu a pena.
Enquanto esse momento não chega, fica a homenagem às mulheres do nosso futebol. Às que já exercem cargos de gestão e às que se estão a preparar para os exercer no futuro, perseguindo mais do que a representatividade, o reconhecimento que lhes é devido. A todas as atletas, desde as que já fazem parte de uma elite dentro da modalidade às que alimentam a base da pirâmide e conciliam, diariamente, vida profissional, escolar, familiar e desportiva para seguir o seu sonho.
Esta semana ficámos a conhecer a aprovação de uma reforma nos quadros competitivos do futebol feminino em Portugal, certamente dedicada a promover a sustentabilidade, competitividade e desenvolvimento das equipas nos vários escalões. Com a produção dos efeitos essenciais desta reforma para 2025/2026, o caminho até lá será de valorização daquilo a que alguns gostam de chamar o "produto futebol feminino".
Continuo absolutamente convicto de que se as protagonistas não tiverem as condições de trabalho indicadas, dificilmente atingiremos os objetivos desportivos que são cada vez mais ambiciosos. Continuarei, por isso, a fazer o apelo para que possamos seguir no alcance de países com estados de desenvolvimento semelhantes e que já conseguiram resolver, por negociação coletiva, os principais problemas laborais que afetam o futebol feminino.
Não quero deixar, igualmente, de valorizar o programa de apoios financeiros e logísticos que a FPF continuamente tem promovido junto dos clubes, resultante de uma visão estratégica sem a qual, é preciso ter consciência, estaríamos uns quantos passos atrás, dependendo apenas da capacidade, por um lado, ou da vontade, por outro, de investimento dos clubes. Estou certo de que as jogadoras em Portugal têm cada vez mais consciência de classe e de que a sua união é determinante nesta fase, porque lutam por mais do que as vitórias dentro das quatro linhas.
Deixo, ainda, um apelo a todos para que saiam à rua neste domingo e exerçam um dos direitos cívicos mais importantes. Votem em consciência e participem na construção do futuro do nosso país. A abstenção e a inércia nunca serão solução.
Por fim, uma homenagem ao eterno Pietra. Mais uma perda irreparável de um homem bom, honesto, simples e na sua essência um tremendo jogador de futebol.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (10 de março de 2024)