Haja talento e combate ao racismo
A caminho do Europeu de 2024 encontrei uma Seleção Nacional cheia de talento e ambição para voltar a lutar por um troféu. Antes do embate com a Suécia, em Guimarães, que resultou numa noite perfeita, tive o privilégio de entregar ao Rúben Dias e ao Bernardo Silva uma lembrança preparada em conjunto com a FIFPRO para assinalar a sua presença no melhor 11 mundial.
Esta distinção que resultou, como sempre, da votação dos jogadores de todo o mundo, anunciada no último ‘The Best’, encaixou que nem uma luva nestes dois extraordinários embaixadores do nosso país. Voltando ao jogo no D. Afonso Henriques, foi muito especial a forma como a Seleção foi recebida e o ambiente vivido no estádio, mas tenho de destacar a estreia do Jota Silva.
O trabalho árduo do jogador é inquestionável. A visão de quem lhe deu esta oportunidade igualmente louvável. Só posso elogiar e desejar o investimento numa estratégia articulada para os vários escalões em Portugal, que conjugue estabilidade financeira e competitividade, para que histórias como esta continuem a existir. O futebol não é só feito no ‘laboratório’ dos principais clubes. Tem a particularidade de nos surpreender quando achamos que a industrialização da modalidade já pouco espaço deixa para a emergência do talento.
No passado dia 21 de março, assinalámos mais um Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. O racismo está presente na sociedade portuguesa e no desporto. É muitas vezes coberto por hipocrisia, frases feitas e lugares-comuns que redundam num sentimento de impunidade difícil de combater. A ação da justiça não tem sido a esperada, mas o futebol pode também fazer mais, combatendo a desinformação, a intolerância e a discriminação.
Fazer com que, desde o momento dos primeiros pontapés na bola, os nossos jovens saibam que não precisamos de viver num mundo do ‘nós contra os outros’, que coloca rótulos de bons e maus, dos destinados a ter sucesso e dos condenados ao fracasso. Numa altura de viragem no ciclo político, com a entrada em força da extrema-direita no Parlamento português, é mais importante do que nunca dar visibilidade aos bons exemplos, mostrar à comunidade que há mais vida para além do ódio e quebrar as barreiras que condenam minorias étnicas e raciais à pobreza, ao desamparo e à exclusão social.
Sendo uma data importante e tantas vezes esquecida no meio da atualidade, deixo a minha palavra de solidariedade e apoio às vítimas de racismo no desporto, com um reconhecimento de que a sua voz ainda não tem a força que devia, perante algumas atrocidades que acontecem desde as bancadas ao centro dos relvados.
Termino com um abraço especial à família e amigos do António Pacheco, mais uma figura incontornável do futebol português que nos deixa demasiado cedo.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (24 de março de 2024)