Gestão de expectativas


Recentemente, no âmbito da rubrica "Desistir Nunca", o Sindicato dos Jogadores deu voz ao jogador Pedro Mendes, um dos pupilos da formação do Sporting, que passou pelo poderoso Real Madrid e joga, atualmente, no Estrela da Amadora. Além de lhe prestar publicamente a minha homenagem, pela coragem, aconselho vivamente a quem não teve a oportunidade de assistir a este testemunho clarividente, humilde e pragmático na demonstração das vicissitudes da carreira de um futebolista, que o faça através do nosso canal de YouTube ou redes sociais.

O Pedro teve a generosidade de partilhar connosco os problemas que sentiu após uma grave lesão que o afastou da competição até ao início deste ano, para ajustar as suas próprias expectativas e conciliar-se com um novo jogador, depois de um percurso difícil e desgastante a nível físico e psicológico.

Falou-nos também do apoio familiar e da ajuda especializada que obteve para ultrapassar um período de grande indefinição, que o levou a colocar em causa prosseguir com a carreira. Este testemunho poderoso enaltece a crua realidade de uma certa desumanização do jogador, face aos problemas ordinários de qualquer cidadão. A bola tem de continuar a rolar mesmo que tudo esteja a desabar na vida daqueles que entram dentro de campo.

Esta história leva-me a reforçar um sincero apelo aos jogadores em Portugal para que não sofram em silêncio. O efeito dos problemas familiares como o divórcio ou a morte de um familiar próximo, a pressão dos resultados e sobrecarga competitiva, o impacto de uma lesão grave, os problemas financeiros, entre outros, são motivos mais do que atendíveis e normais para pedir ajuda.

Felizmente, hoje existem muitos profissionais competentes a trabalhar na área da psicologia do desporto e especializados em coaching, com a ressalva de que também existem, ainda, casos de falta de aconselhamento e assistência adequados, por quem não tem as devidas habilitações. Felizmente não foi o caso do Pedro, acompanhado pela psicóloga Nádia Tavares.

Com a saúde mental não se brinca e esta não é uma ciência empírica que qualquer um pode aprender com meia dúzia de horas de formação. Deixo a minha homenagem aos nossos psicólogos do desporto e o apelo aos clubes para que a sua atividade seja cada vez mais valorizada.

O Sindicato terá sempre a porta aberta para a disponibilização desta ajuda especializada aos jogadores, com as garantias que continuamos a dar desde que criámos um programa de assistência nesta área: o anonimato, a disponibilização de profissionais em todo o território nacional, numa lógica de proximidade, e a ajuda financeira, para que nenhum jogador fique limitado no recurso a este apoio por esse motivo. Deixo, finalmente, os votos de uma feliz e santa Páscoa a toda a equipa e leitores do Record.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (31 de março de 2024)

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