Elos de ligação e realidades decadentes
Atualmente podemos dizer que existe um consenso generalizado no ecossistema desportivo para a necessidade de apoiar os atletas de alto rendimento no seu trajeto extradesportivo. Exige-se que, ainda durante a carreira, possam trilhar um percurso educativo e acumular experiências que permitam fazer a transição, com sucesso, para uma nova atividade profissional.
Os desafios são muitos: a dificuldade em compatibilizar agendas, a incerteza quanto à área de estudos ou projeto adequados, ou mesmo a dificuldade em potenciar as competências adquiridas através do desporto, numa reentrada no mercado de trabalho onde profissionais da mesma área já levam anos de experiência. Num mundo em completa transformação tecnológica e cada vez mais competitivo, a margem de erro é diminuta.
Nasceu, assim, a nível internacional , a figura do Player Development Manager (PDM), que em Portugal transpusemos como Gestor de Carreira Dual. O Sindicato dos Jogadores tem feito um caminho em diversos ângulos de abordagem desta função, tão essencial para os jogadores como interessante, enquanto possível atividade no pós-carreira.
O último desafio que tivemos consistiu em construir um curso online (MOOC), de acesso gratuito, e desenvolver um jogo interativo, integrados no projeto Erasmus+ GOAL4PDM. Com estas ferramentas damos à comunidade desportiva a oportunidade de testar conhecimentos e perceber melhor as finalidades de uma função que, a meu ver, tem um percurso promissor. Com um novo Secretário de Estado do Desporto, que conhece bem a importância do elo de ligação entre desporto, escola e mercado de trabalho, regular e enquadrar apoios para o Gestor de Carreira Dual deverá ser o passo seguinte.
Quero, ainda, deixar duas notas de rodapé. A primeira para valorizar a celeridade da APCVD na decisão sobre o caso dos insultos racistas contra Chiquinho, jogador do FC Famalicão. Se tantas vezes criticamos a nebulosidade do processo decisório e o sentimento de impunidade, é de elementar justiça elogiar quando acontece o contrário.
Por fim, a realidade decadente por detrás da estreia de Courtney Reum pelo Länk Vilaverdense, no derradeiro jogo da época. Deixo um abraço sentido à equipa técnica e aos jogadores que foram autênticos guerreiros neste projeto naufragado que chegou à Segunda Liga com dívidas por regularizar a jogadores e jogadoras, tendo dado continuidade ao desastre no escalão profissional.
Um sinal de decadência evidente, uma imagem humilhante para um clube de mão estendida e para a Segunda Liga. Um exemplo do que não se consegue assegurar, ainda, em sede de licenciamento e um lembrete de que tudo o que legal e regulamentarmente temos de exigir a um investidor e seus representantes numa sociedade desportiva é precisamente que, ao falhar com os compromissos assumidos, sofra sanções que efetivamente o atinjam e afastem do futebol.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (12 de maio de 2024)