Rola a bola na Alemanha


Na incessante rotina competitiva em que se tornaram as épocas desportivas, iniciamos o Euro 2024 com total foco e apoio à nossa Seleção. Todos os jogadores que participam nesta competição, vindos das mais diversas regiões do globo, merecem o meu absoluto respeito por iniciaram mais um ciclo de jogos decisivos que requerem um elevado nível de concentração e esforço físico.

Tratados pelos diferentes organizadores das competições em que participam como máquinas, capazes de rapidamente se ajustar a diferentes contextos, com muitos jogos, treinos, viagens, estágios e concentrações, estes homens abdicam do necessário descanso no final de uma época exigente pelo sonho de obter a glória pelos seus países. Ninguém pode dizer que os jogadores não são a peça fundamental desta indústria, porque sem eles não haveria calendários para espremer.

Faço um parêntesis para destacar que aquilo que moveu os sindicatos inglês e francês, com o apoio da FIFPRO, a demandar a FIFA em Bruxelas, no contexto do novo Mundial de Clubes, foi precisamente a defesa da saúde e bem-estar dos jogadores, comprometida com uma nova prova definida de forma unilateral por aquela organização, comportamento que infelizmente não é exclusivo e pauta a conduta de vários stakeholders no panorama internacional.

Voltando ao Euro 2024 e à nossa Seleção, o sentimento é de grande confiança nos jogadores, dos mais experientes aos jovens que se estão a afirmar, no trabalho dos dirigentes, staff e equipa técnica nacional. Nesta comitiva figuram, além de excelentes profissionais, bons amigos, capazes de nos fazer chegar à vitória, lembrando sempre que não jogamos sozinhos e enfrentamos a elite do futebol europeu. Desejo a toda a comitiva nacional o maior sucesso na Alemanha, pintada pelas nossas cores com o inexcedível apoio da comunidade emigrante.

As garantias que nos dão os homens do presente são óbvias. O futuro é muito promissor, como bem demonstraram os sub-17, a quem presto a minha homenagem pelo Europeu brilhante que fizeram, destacando a maturidade competitiva que reflete um trabalho profundo dos nossos clubes e Seleções na formação. Somos Portugal, um país pequeno, com recursos limitados, repleto de enormes profissionais capazes de competir com quem quer que seja.

O Euro será vivido dia a dia, jogo a jogo, com a memória de 2016 sempre presente. O favoritismo deve ser assumido, fruto do sucesso que alcançámos, mas a responsabilidade de conseguir algo especial pelo nosso país mantém-se inalterada. Sendo certo que o futebol não deve apagar os muitos problemas e desafios que a nossa sociedade enfrenta, também não deve ser desprezado por ser um incomparável exemplo de como podemos ter sucesso, quebrar barreiras entre diferentes regiões, etnias e classes sociais. Rola a bola, agora é com eles.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (16 de junho de 2024)

Mais Opiniões.