Round 2: todos com a Seleção


No momento em que escrevo esta crónica ainda não defrontámos a Turquia em Dortmund, mas só posso estar confiante depois do espírito inquebrável que encontrei em Leipzig. Registo a total sintonia entre a equipa, adeptos e demais comitiva nacional, uma entrada em prova sofrida que foi superada pela nossa resiliência, personificada na garra daquele golo do Francisco Conceição ao cair do pano.

Leipzig mostrou ser tudo o que um grande evento desportivo precisa. Uma cidade com envolvência cultural riquíssima, cosmopolita e cravada na história por uma célebre batalha das Nações, a maior antes da Primeira Guerra Mundial. Numa Europa que voltou a conhecer a violência, os extremismos e a guerra, há que valorizar as batalhas que se fazem dentro da civilidade e valores do desporto.

Da bancada do Red Bull Arena, trago a alegria enorme em assistir à primeira vitória de Portugal no torneio, a imagem de entrega da equipa e o recorde de longevidade de Pepe. Vi o orgulho luso estampado no rosto de diferentes gerações de adeptos e jogadores, entre os quais Figo, Maniche, Quaresma e Adrien Silva, que sabem como ninguém o quão difícil foi crescer e afirmar a potência futebolística que é hoje a nossa Seleção.

Já todos percebemos o equilíbrio competitivo que existe neste torneio e, por isso, não tenhamos ilusões: o espírito combativo e o sofrimento terão de estar de braço dado com o talento imenso da equipa portuguesa.

Voltando à realidade sindical, entrámos na fase decrescente para o arranque da 22.ª edição do Estágio do Jogador e estamos a preparar, como sempre, as melhores condições desportivas no Campus do Jogador, para que os participantes possam encontrar um novo clube, adquirir formação e conhecimentos válidos para os seus projetos de vida e atividade no pós-carreira. Deixo o apelo habitual aos jogadores sem clube para que se inscrevam e façam parte desta equipa, que trabalhará incansavelmente para o seu sucesso.

Uma nota final para os vários casos de incumprimento salarial, dos crónicos (como o da Länk Vilaverdense SAD) aos tornados públicos recentemente (como os da Portosantense SAD e do Dumiense). Apesar da evolução a que assistimos a vários níveis no futebol português, custa-me aceitar as declarações de dirigentes que assumem de forma displicente que devem, mas colocam o ónus desse incumprimento nos jogadores, como se estes fossem obrigados a suportar em silêncio e por tempo indeterminado a falta de pagamento.

Mesmo com as várias promessas de regularização e datas apresentadas, que são desrespeitadas, parece ainda haver espaço para a desfaçatez de se achar que os futebolistas não têm o direito a reclamar, que as suas contas e o sustento das suas famílias podem esperar. Fica um apelo à contenção neste tipo de declarações que só afastam a possibilidade de um resultado consensual.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (23 de junho de 2024)

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