Novidades tecnológicas e dentro de campo


Perante as possibilidades infinitas do desenvolvimento tecnológico e sem entrar, por agora, na complexidade da incorporação e regulamentação da inteligência artificial no contexto das relações laborais (desportivas), algo que desafiará o mundo nos próximos anos, existem cada vez mais instrumentos a auxiliar a performance e promover a saúde e bem-estar dos futebolistas.

Um dos que me surpreendeu na primeira ‘Player IQ Tech’, organizada pela FIFPRO, foi a BrainEye, uma aplicação criada para responder à dificuldade de diagnóstico da concussão cerebral nos jogadores, com impacto, muitas vezes silencioso, na sua saúde a médio e longo prazo. Com a junção da tecnologia e do conhecimento científico nesta área, uma aplicação de telemóvel, que não substitui a avaliação de um médico, permite verificar de forma rápida e simples a saúde cerebral dos jogadores, através da análise do seu movimento ocular.

O exame realizado através da aplicação confere um resultado que pode indicar a necessidade de consulta de um médico especializado. A BrainEye, que mereceu a chancela e incentivo à sua utilização por parte da FIFPRO, é o tipo de instrumento útil e transversal que pode ser um aliado de jogadores que integram clubes em que as estruturas clínicas não garantem um acompanhamento tão exaustivo, como acontece com as equipas de elite. Um entre muitos exemplos de como a tecnologia pode ser uma preciosa ajuda na prevenção de lesões ou doenças.

Esta semana ficámos também a conhecer uma novidade para as competições nacionais, com a importação da regra experimentada no EURO 2024, segundo a qual apenas o capitão de equipa, ou no caso de este ser o guarda-redes outro jogador de campo designado, poderá dirigir-se ao árbitro durante o jogo. Trata-se do incentivo a uma cultura desportiva em que o estatuto hierárquico do capitão ganha preponderância.

Apesar da nossa bagagem cultural neste tema, julgo ser uma medida positiva que será bem acolhida pelos jogadores. Aliás, perante o clima de alguma tensão que marcou a última época, com vários episódios a demonstrarem que os comportamentos incorretos não partem apenas dos jogadores, o reforço deste canal de comunicação pode ter sucesso, se for bem compreendido e trabalhado pelos intervenientes.

Medidas como esta não devem travar a reflexão sobre o quadro sancionatório para comportamentos antidesportivos, ou como assegurar a eficácia das sanções desportivas no nosso ordenamento jurídico, problemas que se interligam com o próprio funcionamento da justiça desportiva. São temas essenciais para atingir um verdadeiro efeito dissuasor, mas vale sempre a pena incentivar medidas como a que foi anunciada, que resultam de uma experiência francamente positiva num grande palco internacional.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (21 de julho de 2024)

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