Educação, o nosso ouro olímpico
O Sindicato dos Jogadores apresentou os resultados do estudo sobre o nível de qualificações e interesses formativos dos jogadores em Portugal, atualizando o levantamento feito em 2016. Este trabalho serviu para monitorizar o impacto de um trabalho intensivo que desenvolvemos há vários anos, ao definirmos a educação como área chave para desenvolver o desenvolvimento do atleta, durante o seu percurso desportivo e na transição para uma nova atividade.
Registamos uma alteração do paradigma que, durante anos, impôs que os jogadores não pudessem qualificar-se e permanecer ao mais alto nível. Hoje a abertura e as estruturas de apoio existentes são muito diferentes. É notório o aumento da percentagem de jogadores com o 12.º ano concluído, muito por força do trabalho que desenvolvemos com a ANQEP, através do programa Qualifica. Verificámos uma maior presença de jogadores no ensino superior e uma aposta maior na qualificação pelas jogadoras, as quais, apesar da grande evolução do futebol feminino, continuam a compreender a precariedade ainda existente e a importância do seu percurso formativo.
É muito importante que o futebol feminino se desenvolva sem sofrer, nesta matéria, as dores de crescimento registadas no masculino. Hoje verificamos uma maior demanda dos atletas em atingir o patamar do ensino superior e garantir os apoios necessários para concluir com sucesso a sua formação académica. Sem surpresa, à medida que o nível competitivo dos inquiridos sobe a percentagem de frequência do ensino superior diminui. De qualquer forma, não tem de ser assim.
O apelo de sempre é para que nenhum jogador, por mais confortável que seja a sua situação financeira, ignore a necessidade de se preparar antecipadamente para o futuro. Estes resultados permitem-nos refletir e trabalhar em novas respostas, logísticas e financeiras, para que em todas as etapas do nosso sistema de ensino formal, na formação profissional e para empreendedorismo, na literacia financeira que é complementar a todo este percurso. E, ainda, na formação à medida, direcionada para os interesses predominantes dos jogadores, a maior parte ligados ao desporto, saibamos construir uma cultura assente na valorização do praticante, socialmente ativo e capacitado para vir a desempenhar quaisquer funções.
Acredito muito no valor dos nossos atletas e a cada ciclo olímpico renovo o orgulho naquilo que, com recursos limitados, a delegação nacional consegue fazer. O historial de investimento público no desporto e promoção da atividade física na população contrasta com as muitas histórias de dedicação, superação e sucesso, em nome do sonho olímpico. Havendo na vida outras conquistas que valem ouro, desde logo a educação e cidadania, desejo a cada um dos atletas que representará Portugal o maior sucesso, nesta experiência sempre memorável de estar nos Jogos Olímpicos.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (28 de julho de 2024)