Mudança de paradigma?


Antes do arranque da Liga chegou a confirmação de que Pepe terminou a sua fantástica carreira. Além de enaltecer as qualidades desportivas, que estão à vista de todos, deixo-lhe um abraço especial por aquilo que também soube ser fora de campo, enquanto capitão de equipa. Recordarei a confiança e apoio que deu ao Sindicato, num momento extremamente difícil, provocado pela paragem das competições devido à pandemia da COVID-19. O apoio das referências como Pepe ajudou a encontrar soluções difíceis, mas consensuais, minimizando conflitos que noutros países foram muito mais prolongados. Devemos-lhe essa gratidão pela dedicação à classe, ao futebol e ao país.

Quero, ainda, salientar o ambiente de convivência saudável e desportivismo que marcou o arranque desta época, em particular o diálogo entre os presidentes dos principais clubes, que à margem da rivalidade percebem que o futebol português vive um momento decisivo e de necessário diálogo, para garantir a competitividade externa da qual depende a sustentabilidade de todos. Se será fruto das circunstâncias políticas e desportivas ou uma verdadeira mudança de paradigma, saberemos em breve.

Outra inevitabilidade do nosso futebol é a presença de investidores estrangeiros no capital das SAD. Assume-se cada vez mais como um fator de competitividade e estabilização da situação económica dos clubes, com impacto não apenas na sua capacidade de recrutamento, mas também no cumprimento pontual dos compromissos com jogadores, técnicos e demais trabalhadores.

Numa indústria profissional que gera os rendimentos que são conhecidos, é incompreensível que não se afinem os mecanismos de licenciamento, controlo e sancionamento para erradicar situações de incumprimento que, apesar de pontuais, ainda acontecem. Nesta relação que é de necessário "win-win", para o clube e para o investidor, garantir o escrutínio da idoneidade, prevenir os conflitos de interesses, exigir transparência, prestação de garantias e um modelo de governação sustentável são a única segurança para um país que já viveu demasiados casos de descalabro em clubes de futebol.

A nossa diferenciação está também na capacidade de transformar talento e potenciar jogadores. Qualificar e apoiar os recursos humanos deve ser uma prioridade, sendo de louvar a notícia do alargamento das vagas disponíveis em cursos de treinadores UEFA A, tutelados pela FPF e colegas da ANTF.

Por fim, um louvor para os medalhados olímpicos. O bronze de Patrícia Sampaio, no judo, a prata de Iúri Leitão, no ciclismo de pista em omnium, e de Pedro Pichardo no triplo salto. Fechamos com o ouro para a dupla Iúri Leitão e Rui Oliveira no ciclismo de pista em madison. Ganhámos medalhas e vencemos no plano da ética, fruto do gesto do Iúri para com o campeão olímpico que enalteceu o seu valor humano. A demonstração de que os atletas precisam de mais e melhor desporto em Portugal.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (12 de agosto de 2024).

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