Pés assentes no chão
Nos últimos anos muitos jogadores, de diferentes escalões, têm tido a oportunidade de internacionalizar a sua carreira. É uma tendência gerada pela vontade de encontrar melhores condições de vida e pela boa avaliação que os jogadores formados em Portugal têm em diferentes mercados. Sendo verdade que existem muitos agentes a garantir a abertura de portas, infelizmente existem fraudes cada vez mais ardilosas a acontecer, potenciadas pela facilidade de contacto através das redes sociais ou plataformas como o WhatsApp.
A sofisticação na criação de perfis falsos ou apresentação de documentos forjados que atestam o suposto interesse de clubes estrangeiros tem levado, infelizmente, jogadores menos informados a cair em esquemas. Perdem o precioso tempo nesta fase da época e o dinheiro que lhes é cobrado com a indicação de que servirá para garantir a viagem e estadia, ou simplesmente para a preparação de documentos necessários à entrada e permanência no suposto país de destino. Alerto, por isso, os jogadores para a necessidade de se precaverem e verificarem atempadamente a legitimidade de qualquer proposta que chegue do estrangeiro.
Para ajudar a tornar mais transparente o sistema de recrutamento de jogadores, em especial para a realização de testes a nível internacional, a FIFA criou um formulário (FIFA Trial Form), que os clubes recrutadores estão obrigados a submeter na plataforma de transferências (FIFA TMS), definindo a duração do período de testes e as condições oferecidas. O documento é subscrito pelo jogador e responsáveis do clube antes de ser submetido.
Não é difícil, portanto, verificar que o tipo de documentação exigida não é adequado à proposta realizada. É também acessível a todos verificar se a pessoa que se apresenta como agente está licenciada, ou não, para o efeito. Por mais sedutora que pareça uma proposta de contrato de trabalho, é preciso manter os pés assentes no chão para evitar danos maiores. Deixo este alerta na tentativa de ajudar a prevenir novos embustes. O Sindicato dos Jogadores permanece disponível para apoiar os jogadores na análise e verificação das propostas que lhes cheguem do estrangeiro, em especial as que partem de pessoas com as quais nunca tiveram contacto.
Presto, ainda, a minha sincera homenagem a José Manuel Constantino, figura ímpar do desporto português. Felizmente tive oportunidade de lhe transmitir a gratidão pelo seu contributo em vida, partilhando a admiração que tinha pela sua capacidade de intervenção, inteligência e forma de estar. Nunca confundiu a responsabilidade dos cargos com o conformismo. Devemos-lhe muito mais do que o empenho e sucesso nas missões olímpicas que liderou.
Por fim, ao Artur Soares Dias, que anunciou o fim de carreira, deixo um abraço de agradecimento e votos de felicidades para esta transição que também os árbitros têm de fazer. Deixa um legado de reconhecimento internacional que dignificou, indiscutivelmente, a arbitragem nacional.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (18 de agosto de 2024)