Os dois lados da moeda
O futebol português é pródigo em casos e muita conversa lateral. Poucas vezes se enaltece aquilo que de bom vamos conseguindo fazer.
É, por isso, justo começar por enaltecer as campanhas que SC Braga e Vitória SC estão a fazer na Europa. Nota-se a fome de vencer que os jogadores têm empregado em cada jogo, num caminho que garante mais do que prestígio e receitas para os clubes. Assegura a necessária acumulação de pontos e continuidade de mais equipas na Europa, o que nos permitirá respirar melhor no ranking da UEFA.
Outro fator que nos deve orgulhar é a imagem do jogador português lá fora. Para não correr o risco de me esquecer de muitos nomes que asseguraram o salto para clubes de primeira linha europeia, ou ligas emergentes, direi genericamente que o mercado internacional, apesar de menos fulguroso para as transferências multimilionárias em relação a um passado recente, mantém-se muito ativo para o jogador formado em Portugal.
Este é também o ano dos regressos. Vários companheiros, na reta final da carreira, ou à procura de a relançar, estão de volta ao nosso campeonato. A ambição de segurar jovens talentos não se compadece com as necessidades financeiras dos clubes, mas estaríamos certamente em maiores apuros se não tivéssemos construído este legado de qualidade. Parabéns aos jogadores, treinadores, árbitros, dirigentes e todos os agentes desportivos cujo trabalho torna isto possível.
Deixo, ainda, uma mensagem de parabéns ao Sporting CP pela conquista da Supertaça Feminina. Não adianta começar o ano desportivo com polémicas. Houve falta de comunicação e articulação nos calendários. Será um aspeto a ter em atenção na próxima oportunidade para benefício de todos. Felizmente, dentro das quatro linhas, tivemos as jogadoras a demonstrar toda a sua entrega e qualidade.
Lamentavelmente, existe sempre o outro lado da moeda, obscuro e negativo. Numa altura em que a FIFA começa a dinamizar o marketing do seu novo Mundial, passam seis meses desde que aprovou a última ronda de candidaturas ao FIFA Fund, mecanismo criado para ressarcir jogadores afetados pela insolvência ou extinção dos seus clubes. Inexplicavelmente, estes jogadores que viram a sua candidatura aprovada ainda não receberam. Coincidência? Retaliação? Acima de tudo, lamentável.
Lamentáveis são, também, os comportamentos bafientos e opacos, sinais de outros tempos, em que alguns agentes desportivos faziam questão de menorizar os verdadeiros protagonistas do futebol, os jogadores. Já não vivemos nesse tempo, para o desalento de alguns.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (25 de agosto de 2024)