Cidade especial


Terminada uma semana em que o Porto foi a capital dos eventos desportivos, quero enaltecer a vitalidade da cidade, a receção acolhedora das suas gentes e a excelente capacidade de organização dos promotores. Uma palavra especial ao presidente Rui Moreira, que tive a oportunidade de rever. Tem sido um defensor incansável da dinamização do desporto, da transparência, integridade e valores que o devem reger.

Após um fórum organizado pela SIGA, em que formalizou com o Sindicato dos Jogadores a parceria estratégia para o empoderamento das jogadoras e capacitação de mulheres no futebol, seguiram-se três dias fantásticos de Thinking Football. Agradeço à Liga, na pessoa do presidente Pedro Proença, pela forma empenhada como tornou este evento um espaço de debate, liberdade e confrontação de ideias, assegurando a visão dos jogadores nos diferentes temas em discussão. Mesmo em desacordo, ou com visões distintas para os mesmos problemas, é possível encontrar soluções e evoluir.

Além de rever muitos amigos e conhecidos de instâncias nacionais e internacionais, contactei com muitas pessoas novas, agentes desportivos que aproveitei para conhecer e ouvir os desafios que enfrentam no seu dia a dia. Um dos temas da atualidade é, sem dúvida, a sobrecarga competitiva e a FIFPRO já publicou o relatório de 2024 referente aos indicadores da última época.

Ainda sem poder analisar o impacto do novo formato das competições europeias e do Mundial de Clubes, o alargamento da base de estudo vem reforçar que este não é um problema exclusivo das grandes ligas europeias. Afeta jogadores em diferentes contextos.

Volta-se a concluir que o calendário futebolístico coloca em risco a saúde e bem-estar dos atletas, com mais jogos em períodos críticos de repouso ou recuperação. Como irão os clubes lidar com isto? Ancelotti já deixou algumas pistas da possível gestão na sua equipa, resguardando os jogadores mais castigados pela carga de jogos em determinados momentos da época. É mesmo isto que queremos? Não ter os melhores em campo sempre que possível?

Outra questão muito interessante do estudo é a comparação da carga de jogos em talentos como Bellingham, Wirtz ou Mbappé, com outros craques de gerações passadas, na mesma idade. A diferença é abismal. Terão a mesma progressão? Conseguirão manter carreiras ao mais alto nível pelo mesmo tempo? Os indicadores são de absoluta saturação e a FIFPRO confirma em dados que a sua ação política e legal para exigir mudanças tem toda a razão de ser.

Uma última nota para agradecer a todos os que contribuíram para a realização da Gala das Campeãs, em particular ao Record. Mais do que um evento de consagração do mérito desportivo, foi um momento especial, em que demos voz a mulheres igualmente especiais e capazes de a usar para as causas certas.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de setembro de 2024)

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