Saúde, liberdade e orçamento


A propósito do Dia Mundial da Saúde Mental, nunca é demais fazer pedagogia sobre este tema essencial. Apesar da resposta que os psicólogos dão no desporto, capaz de salvar vidas, o bem-estar psicológico é uma realidade pouco valorizada, em especial como fator de desenvolvimento dos atletas e da sua melhor performance. Muitos, felizmente, já conhecem a importância deste acompanhamento, porque se familiarizaram com ele, ou dele precisaram num momento crítico da sua carreira.

Independentemente do tamanho do problema ou obstáculo que se coloca, nenhum jogador de futebol em Portugal ficará sem a assistência adequada. O Sindicato mantém este tema como prioritário e continua a disponibilizar o acesso a uma rede de apoio psicológico, suportando os custos das primeiras quatro consultas. Não há motivo para receios e posso afirmar, em jeito de balanço, que a experiência de quem nos tem procurado é francamente positiva, acima de tudo confidencial e sem comprometer a rotina no local de trabalho.

No futebol existe a ideia de que os jogadores são obrigados a suportar tudo, sendo das profissões mais escrutinadas pela exposição mediática. Em relação ao que os jogadores fazem no seu tempo livre e, pasme-se, parece que também saem à noite ou têm vida social, é de elementar normalidade para o seu bem-estar psicológico que não tenham a totalidade do tempo ocupado por restrições ou monitorização pela entidade empregadora.

O argumento de que o regulamento interno dos clubes é a bitola da legalidade nessa matéria é perigoso. Diz-me a experiência que o juízo de censura depende mais do estatuto e importância do jogador para a equipa, sendo que alguns desafortunados, por supostas infrações na gestão do seu tempo livre, acabam envoltos em processos disciplinares bem difíceis de resolver. Entre regras e liberdades, acima de tudo deve imperar o bom senso, o compromisso e o respeito pela privacidade de cada um.

Nota final para a proposta de Orçamento de Estado que, inicialmente, cortava nos apoios financeiros ao desporto. Afinal, acabou por aumentar, ainda que tenha sido menos do que o esperado. Falei do tema há algumas semanas e mantenho a perceção de que é fácil deixar o desporto a falar sozinho, na imensidão dos problemas globais do país.

Ao olhar para outros setores é de concluir que "quem não chora não mama". Pobre da nação que não reconhece o desporto como fator de desenvolvimento, inclusão, saúde, emprego e identidade cultural. Algumas reivindicações são condição de sobrevivência na base, outras são o apoio que falta aos nossos praticantes no amadorismo, no caminho para o alto rendimento, na ligação entre a vida desportiva, familiar e profissional e na transição de carreira. É excelente aplaudir os feitos das Seleções Nacionais ou as medalhas olímpicas e paralímpicas, mas igualmente importante reconhecer esse papel em concreto.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (13 de outubro de 2024)

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