FIFA (not) Fund


Existem temas que incomodam pela forma como se exploram os mais fragilizados para obter ganhos políticos. Sou talvez dos poucos dirigentes que em temas como os calendários internacionais ou o sistema de transferências sempre fez questão de não diabolizar o organismo máximo do futebol mundial e repartir a responsabilidade por todos os organismos que se furtam ao diálogo, cooperação e respeito pelos direitos dos jogadores.

No entanto, em relação ao FIFA Fund é impossível não identificar a FIFA como única responsável do problema gerado pelo atraso no pagamento do quarto e último período de candidaturas aprovadas. A explicação só pode estar na punição à FIFPRO, entidade responsável pelo acordo que levou à criação deste mecanismo. Certamente que as iniciativas recentes na defesa dos direitos dos jogadores, entre as quais a queixa na Comissão Europeia relativa aos calendários e o ‘caso Diarra’, contribuíram para este episódio lamentável.

Além de ser absolutamente injusto para os trinta e cinco jogadores que, em Portugal, aguardam há mais de um ano pelo pagamento, é tremendamente frustrante que os pedidos de informação constantes, apresentados pelos próprios, não sejam sequer respondidos. Decidi, por isso, fazer um apelo público ao presidente Gianni Infantino, que conheço pessoalmente e respeito, para que saiba separar os conflitos pessoais ou institucionais de um mecanismo que foi criado com total justiça e racionalidade para proteger jogadores lesados pela insolvência ou extinção dos seus clubes, os quais não têm a mínima participação nas disputas de poder que afetam o futebol mundial. Tentar ser forte com os fracos é um ato que só envergonha quem o pratica.

Mudando para assuntos bem mais positivos, acompanhei esta semana o lançamento pela Federação Portuguesa de Futebol do segundo programa de bolsas de estudo para jogadoras da Liga BPI, em parceria com o BPI e Fundação ‘La Caixa’. Este projeto permitirá o apoio a mais vinte candidatas no próximo ano letivo. Fiquei, igualmente, satisfeito por saber que o excelente programa ‘Second Half’ será implementado em Portugal. Não há dúvida de que a Federação tem feito muito mais do que dar estrutura e incentivos financeiros à competição. A preocupação com o presente e futuro das jogadoras, para que não se repitam os erros do futebol masculino no caminho para a profissionalização, é evidente.

O Sindicato tudo fará para acompanhar este apoio às jogadoras, no seu projeto de carreira dual, desenvolvimento pessoal e transição. Internamente, acabámos de o fazer com a Matilde Fidalgo, que se junta à Carla Couto e à Micaela, a quem auguramos um futuro promissor. É assim que se preparam as próximas gerações, para as quais integrar estruturas diretivas ou exercer funções no futebol não será uma questão de quotas, mas antes de mérito e resultado das oportunidades criadas.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (27 de outubro de 2024)

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