O legado de Rúben Amorim
O tema da semana é, incontornavelmente, a saída de Rúben Amorim do Sporting CP e o sentimento geral de que ficará um vazio, não apenas para o clube e jogadores que liderou brilhantemente até aqui, mas para todos os que se identificam com a sua forma simples, transparente e genuína de estar no futebol.
Alguns já se terão esquecido, mas o Rúben teve de percorrer o caminho das pedras, desde o início da sua carreira no Casa Pia à mediática transferência do SC Braga para o Sporting CP. É um caso paradigmático daquilo que o futebol português podia ter perdido se os obstáculos não tivessem sido superados, em especial no seu processo de formação como treinador, dando rosto aos problemas que muitos jogadores enfrentam na fase de transição, pelas dificuldades de acesso e progressão entre os vários níveis.
Neste momento que provoca um misto de sentimentos, esteve bem o Rúben ao comunicar a decisão de agarrar a oportunidade de treinar um gigante como o Manchester United e antecipar um novo projeto, pensado para o final da presente época, e esteve bem o presidente Frederico Varandas, que nas suas declarações honrou o legado do treinador, dando garantias de tranquilidade e estabilidade para o projeto do clube.
Neste novo ciclo que se vive no futebol português não há espaço para regressar aos velhos hábitos, ao discurso bélico e à cultura do ego. O Rúben trouxe essa forma de estar com elevação, na vitória e na derrota, acumulando a experiência e o sucesso que o levam para liga mais competitiva do mundo. Desejo-lhe toda a sorte neste grande desafio.
Esta semana decorreu na Federação Portuguesa de Futebol uma assembleia-geral especial, de balanço da atividade e dos feitos alcançados nos três mandatos da presidência de Fernando Gomes. A assembleia quis prestar a sua homenagem aos que contribuíram para este percurso de sucesso.
O Sindicato dos Jogadores apresentou uma proposta para alargar a atribuição do título de sócio honorário a todos os elementos integrantes da Direção, com enfoque na abertura nunca vista à integração de ex-jogadores na estrutura dirigente da Federação, uma medida que só podemos valorizar pelo caminho que abriu às próximas gerações.
Considerando a estabilidade vivida ao longo dos três mandatos, propusemos alargar este reconhecimento aos presidentes dos restantes órgãos estatutários e quisemos, ainda, enaltecer o trabalho decisivo dos CEO’s Tiago Craveiro e Luís Sobral. Mesmo com divergências naturais e saudáveis no contexto de qualquer relacionamento institucional, é importante reconhecer o contributo de todos os que catapultaram Portugal para um patamar de excelência e reconhecimento internacional. Cientes de que persistem problemas estruturais por resolver, estamos hoje mais capacitados do que nunca para os conseguir ultrapassar.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (3 de novembro de 2024)