Escola ou Desporto? Os dois!


Por mais estudos que se possam fazer em relação às necessidades dos estudantes atletas ou pedagogia sobre a importância de apoiar as carreiras duais, existe algo incontornável no sucesso da compatibilização entre a escola e o desporto que é a boa vontade, de parte a parte. Acredito genuinamente que o futebol tem evoluído, fruto de um esforço conjunto, tanto no masculino como no feminino, para fomentar o percurso escolar dos atletas. Aliás, no feminino temos a responsabilidade acrescida de aprender com os erros cometidos pela profissionalização precoce dos jogadores e o abandono dos estudos que os deixou sem plano B e vulneráveis à ruína financeira. A maioria dos jovens consegue concluir o ensino obrigatório ou encontra soluções adaptadas, como o ensino profissional, o programa das unidades de apoio ao alto rendimento na escola (UAREE), ou o “Qualifica”, no caso dos adultos, os quais ajudaram a mitigar a forte rigidez da escola tradicional no acompanhamento, adaptação de horários e calendarização de avaliações.

A escola pública e os seus professores enfrentam um período de grande stress, bem sei, mas têm chegado ao sindicato vários relatos de atletas e respetivas famílias que desesperam com a total inflexibilidade no apoio à carreira desportiva. O mesmo se regista no ensino superior, que tem hoje à disposição um estatuto do estudante atleta. Embora tenha sido uma excelente medida, por alargar significativamente o alcance face ao velhinho estatuto de alto rendimento, apoiando atletas do desporto universitário e a participar em competições desportivas de âmbito nacional, enfrenta-se no terreno a discricionariedade da regulamentação interna das universidades, ainda que interligada com pareceres federativos, e a falta de cooperação de alguns docentes, o que causa bastantes constrangimentos a quem pretende usufruir deste apoio.

O futebol, como outros desportos, não substitui a formação académica. No entanto, enriquece-a, garantindo o desenvolvimento de competências pessoais, ao nível da comunicação e liderança, tomada de decisão e visão estratégica, entreajuda, gestão de conflitos, resiliência, espírito de sacrifício ou autoconhecimento. Colocar um jovem atleta, por mais promissor que seja, entre a espada e a parede, no sentido de fazer depender o seu percurso desportivo do insucesso escolar, ou queimar algumas disciplinas cujos horários se incompatibilizam com os treinos, ou simplesmente pela intransigência de um professor, integra um problema cultural que ainda vamos ter por longos anos. A visão política ao longo do tempo não ajudou a desconstruir os mitos, desde logo o de que só com programas especiais é possível garantir a cooperação das escolas. Apelo à nova geração de professores para uma mudança de paradigma, porque a nova geração de atletas está, indiscutivelmente, a fazer a sua parte.

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