Ouvir e dar voz ao jogador


A forma clarividente como Rúben Dias abordou a temática dos calendários e sobrecarga competitiva na ‘Web Summit’ deixa-me esperançoso no papel que esta geração pode assumir para promover algumas mudanças estruturais. Soube identificar o problema e alertar para os riscos existentes quando os interesses financeiros se sobrepõem à saúde e bem-estar dos protagonistas, impactando o próprio espetáculo desportivo.

O tema vai, indiscutivelmente, continuar a marcar a agenda internacional, juntamente com as alterações regulamentares que decorrem do ‘caso Diarra’. Sobre esta matéria, na reunião realizada esta semana com o Secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, procurei atualizar o Governo sobre as perspetivas negociais entre FIFPRO e FIFA, bem como o papel essencial que a concertação social assume na tomada de decisões que afetam os direitos dos jogadores, tanto internacionalmente como no plano interno.

Os estados-membros europeus têm um especial dever de monitorizar o respeito pelas garantias laborais e liberdades fundamentais, podendo ajudar no escrutínio que o setor do futebol profissional precisa. Nesta reunião foi possível densificar temáticas que permanecem uma prioridade para o Sindicato dos Jogadores, como o melhoramento dos canais de comunicação para apoio a atletas estrangeiros, paralelo ao combate ao tráfico, auxílio à imigração ilegal e burla, o desenvolvimento no futebol feminino e a importância de aprovar o primeiro acordo coletivo de trabalho no setor, medidas que ajudem a promover as carreiras duais e apoiem os jogadores a desenvolver um projeto de vida que facilite a sua transição, ou ainda a justiça desportiva, em particular os problemas identificados no funcionamento do TAD.

Um dos temas incontornáveis da semana foi a espada sobre a cabeça do treinador João Pereira e mais uma intensa discussão sobre a formação de treinadores. Acompanhei o processo do João e sei bem as dificuldades que enfrentou para progredir, como tinha acontecido em relação ao Rúben Amorim. Pergunto-me, em relação a este último, que tremendo profissional e mais-valia para o futebol português podíamos ter perdido se desistisse pelo caminho?

Têm razão os jogadores no ativo quando reclamam formas de poder compatibilizar e progredir na sua formação como treinadores, especialmente na componente teórica, porque na componente prática, em especial aqueles que em contexto de Seleção Nacional e clubes trabalham com as melhores equipas técnicas, acumulam experiências que merecem ser valorizadas. Lei é lei, dirão alguns. Continuo a achar que não há leis imutáveis, de outra forma teria sido impossível introduzir, na última alteração legislativa, alguns mecanismos aceleradores. Sobre o resto estamos todos de acordo, continuar a formar bem e contar com os melhores. Por falar nos melhores, estamos nos ‘quartos’ da Liga das Nações. Obrigado Portugal!

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (17 de novembro de 2024)

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