A ditadura do Mundial de Clubes

Está sorteada a nova competição de clubes da FIFA, envolta num ambiente pouco diplomático. Após um processo de criação e conceção que deixou de fora as legítimas preocupações dos jogadores, em especial no quadro da sobrecarga competitiva, e das Ligas, preocupadas com o equilíbrio geral do sistema, a ditadura financeira parece não ter cedido a quaisquer outros interesses. Pelo contrário, o anunciado sancionamento dos clubes que, de forma ostensiva, não utilizem as suas equipas mais fortes, é o assumir de que nada poderá beliscar a imagem desta competição. “Show must go one” e as preocupações em proteger os jogadores vítimas de um calendário catastrófico ficam para apreciação, a breve trecho, pela Comissão Europeia. Tal como no “caso Diarra”, aquilo que podia ser feito antes terá de esperar. Será necessária uma decisão jurisdicional para abrir a porta a um diálogo que devia estar a acontecer há anos, protegendo-se, como em qualquer modalidade por esse mundo fora, a qualidade do espetáculo e melhor performance dos atletas que atraem todo o investimento para a indústria.
Falando de coisas bem mais positivas, as Navegadoras estão na fase final do Campeonato da Europa 2025 e consolidam, desta forma, um caminho de enorme crescimento e afirmação, tanto a nível interno como a nível internacional. As barreiras ideológicas e culturais têm sido desfeitas por um projeto sustentado desde a base, com enorme apoio da Federação Portuguesa de Futebol, sendo as presenças em fases finais um motivo adicional, mas não exclusivo, de reconhecimento ao trabalho de atletas e clubes. O futebol feminino tem futuro e a igualdade de género não deve ser vista apenas como uma bandeira. As nossas jogadoras são uma verdadeira força inspiradora, justificando dentro de campo o trabalho que, fora dele, o futebol português ainda terá de fazer para salvaguardar direitos, combater a precariedade e nivelar condições laborais e desportivas. A importância do acordo coletivo de trabalho mantém-se mais presente do que nunca.
Nota final para prestar a minha homenagem ao mister Artur Jorge, que se junta a Abel Ferreira e Jorge Jesus no lote de treinadores portugueses a conquistar a Libertadores. Resultado de muito profissionalismo e trabalho num país que, por natureza, exporta talento para Portugal, mas agora beneficia dos fantásticos recursos humanos que sabemos formar. Um abraço especial a toda a comitiva do Botafogo, e a todos os nossos compatriotas que, espalhados pelo mundo, continuam a fazer a diferença.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (8 de dezembro de 2024)