Chega ao fim 2024

O ano de 2024 foi o ponto de partida para mudanças de ciclo e algumas reformas no plano internacional, decorrentes, em particular, do ‘caso Diarra’. Não era esperado que após conhecer a decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia a FIFA abrisse a porta à negociação coletiva com a FIFPRO, tendo-se ficado por um processo de consulta alargada e uma proposta, unilateral, de regime transitório.
Considerando que os jogadores terão de ser ouvidos, mas também de acordar sobre as alterações promovidas, neste tema, bem como no tema dos calendários e sobrecarga competitiva que será escrutinado pela Comissão Europeia, fica claro que a conflituosidade só diminuirá com soluções construídas em diálogo, sendo que processos de consulta, por mais benevolentes que sejam, não serão suficientes sem a participação efetiva dos jogadores, destinatários das medidas que serão adotadas. O que se segue para os jogadores? Muitos poderão não se identificar com os problemas de mobilidade laboral ou excesso de carga de trabalho, vivendo o dia a dia da precariedade contratual, incumprimento salarial e luta por condições de vida estáveis.
Sejam parte da elite ou estejam na base da pirâmide, existe hoje um consenso alargado para a importância da educação e preparação dos jogadores para o seu futuro fora das quatro linhas. Antecipar um projeto de vida paralelo à carreira profissional, investir na formação ou criação do próprio negócio, planeando adequadamente os instrumentos de poupança e os investimentos, exercer um ativismo pela defesa dos direitos, enquanto classe profissional, ou de causas sociais.
Neste mundo, que é de escrutínio permanente, o desafio para os futebolistas é, mais do que nunca, ter espaço e apoio para construir um projeto de vida que garanta a sua transição de carreira, mas antes disso o seu bem-estar e saúde mental, sem os quais não existe qualquer contributo válido para a sociedade. É fácil desumanizar o jogador e, perante determinados contextos, é ainda mais fácil promover fenómenos de viciação de resultados ou de corrupção. O nosso trabalho nunca está completo, na procura de melhores condições de vida para os protagonistas e de um futebol mais justo, transparente e vivido no seu estado puro.
Quero, ainda, deixar um sentido abraço ao Vítor Gomes, um dos nossos que vive um momento muito difícil com a partida do seu pai nesta quadra natalícia. As minhas condolências, em representação de todos os jogadores. Finalmente, a toda a família do futebol, adeptos e leitores do Record, desejo um excelente ano de 2025, com votos de muita saúde, sucesso e prosperidade para todos.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (29 de dezembro de 2024)