Proteger o talento é proteger o futebol

A formação dos jovens jogadores será sempre um tema caro e importante ao futebol português, indiscutivelmente relacionado com a capacidade de competir com mercados que têm outra escala e argumentos financeiros. Neste segmento existe uma corrida desenfreada à descoberta da ‘galinha dos ovos de ouro’, onde se violam preceitos legais e regulamentares, mas acima de tudo se esquece que, no alucinante mundo da descoberta dos próximos atletas de elite, também tem de caber o crescimento sustentável, a educação integral e o desenvolvimento de que estes precisam, enquanto seres humanos.
Agentes que ignoram uma proibição muito clara de representação de menores e moldam a carreira dos jovens, muitas vezes acompanhada por claros conflitos de interesses e dupla representação, de clube em clube até à celebração do primeiro contrato de trabalho, famílias ansiosas e capazes de pressionar os jovens jogadores até ao limite para que alimentem o seu sonho, projetos de internacionalização precoce, apenas limitados pelo sistema de proteção de menores da FIFA e situações que rapidamente passam de uma oportunidade com futuro para a exploração e isolamento sem limites.
Existem muitos clubes, pais e agentes que atuam neste segmento sem os vícios que referi, é certo, mas não podemos deixar de falar sobre os atropelos que acontecem diariamente. Seja com um vínculo puramente amador, seja com o nível de vinculação adicional do contrato de formação desportiva, o conceito de formação no futebol não pode resumir-se ao frenesim competitivo e à projeção das expectativas de terceiros no percurso dos jovens.
Muitos dos problemas na transição de carreira e desafios colocados ao nível da saúde mental e bem-estar emocional estão intimamente ligados com as ferramentas que não se adquiriram ao longo do percurso formativo, em idades que, para a restante população, são de aprendizagem sem pressão, aquisição gradual de responsabilidades, multiplicidade de experiências e, acima de tudo, tolerância ao erro. Este é para mim um desígnio do nosso país, proteger os jovens, enaltecer e apoiar os projetos desportivos que os ajudam a crescer numa perspetiva integral.
Por fim, ao escrever este texto ainda não é conhecido o vencedor da Taça da Liga, pelo que desejo aos finalistas Sporting e Benfica um excelente e empolgante jogo, capaz de galvanizar, envolver os adeptos e demonstrar, mais uma vez, a qualidade das duas equipas. Numa semana com grande densidade competitiva para os jogadores, espero que consigam dar tudo de si e que possamos, também, falar de um jogo sem lesões ou casos a registar.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (12 de janeiro de 2025)