Praticante desportivo: destaque ou rodapé?


O desporto português vive um momento de transição, com múltiplos projetos e visões a serem traçados para os próximos anos. O Governo, à margem dos programas desenhados no ecossistema desportivo, tem em curso o projeto para elaborar o plano para o desenvolvimento do desporto no nosso país, sendo o momento para contribuir e definir prioridades na política desportiva.

Uma das coisas que sempre me impressionou no discurso de alguns dirigentes é o quão pouco mencionam o papel dos praticantes desportivos na definição de uma estratégia para atingir o sucesso, ou aumentar quaisquer indicadores que possam ser parametrizados para avaliar se estamos a evoluir positivamente.

Na verdade, tudo se baseia nos praticantes, nas condições logísticas, infraestruturas e apoios financeiros que são criadas para que possam iniciar a sua atividade desportiva e crescer, no apoio para que mantenham a atividade física ao longo da vida como modo de vida saudável e, naturalmente, no apoio àqueles que atingem o patamar profissional e representam não só os seus clubes ao mais alto nível, como as cores do seu país.

Temas como a saúde e bem-estar dos praticantes, relacionados com os seguros desportivos e os mecanismos de proteção social, o apoio às carreiras duais e transição de carreira, as condições para as atletas na maternidade e respetiva compatibilização entre a vida familiar e profissional, a capacitação de atletas para exercício de cargos de liderança e gestão, entre outros, fazem parte de uma visão global para o desporto que nenhum país desenvolvido pode descurar, muito menos o nosso que tem, por natureza, uma base de recrutamento inferior à maioria das potências com as quais concorremos.

O praticante deve ser sempre o destaque e não uma mera nota de rodapé, colocada no final de todos os interesses que gravitam à volta das indústrias associadas ao treino, à atividade física e ao desporto. Nessa medida, tomei em consciência a decisão de continuar, quer a nível interno no Sindicato dos Jogadores, quer a nível internacional, no Board mundial da FIFPRO, a defender os protagonistas, que no caso concreto do futebol enfrentam um momento desafiante, com múltiplas questões em aberto para os próximos anos.

Sairão os direitos fundamentais dos futebolistas reforçados? Teremos um mercado mais competitivo e equilibrado? Haverá mais decisões judiciais a inviabilizar o atual quadro regulamentar? A certeza que tenho é que elas e eles, dentro das quatro linhas, moldarão o seu próprio futuro.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (2 de março de 2025)

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