Ambiente difícil e várias perplexidades

Ponto prévio, reconheço o trabalho de Fernando Gomes à frente da FPF e o muito que ajudou a desenvolver a instituição e o futebol português e reconheço o trabalho de Pedro Proença à frente da Liga, bem como na construção de um programa agregador que lhe garantiu a sucessão na liderança da FPF.
Ambos com mérito individual e excelentes equipas em seu redor, que tantas vezes fazem a diferença. Incrédulo com as análises de alguns “esqueletos saídos do armário”, que têm contribuído para agravar ainda mais a crise institucional em que vivemos, quero reforçar que os acontecimentos que originaram a perda do lugar de Portugal no Comité Executivo da UEFA não podem voltar a repetir-se. São muitas as perplexidades que me assolam neste momento.
Se o desporto utiliza o princípio da autonomia do movimento associativo para tomar tantas decisões de modo próprio, e temos organizações desportivas com estruturas capazes de tomar as melhores decisões, como é que existe uma demissão generalizada dessa responsabilidade quando surge um problema para resolver? Neste caso abrimos espaço a um ambiente de contágio, fragmentação e populismo.
No exercício das minhas funções e em defesa dos futebolistas já me incompatibilizei e tive divergências profundas com muitos dirigentes. Felizmente nunca pessoalizei esses acontecimentos, nem me toldaram a visão do que era realmente importante para o futebol português, ganhando umas vezes e transigindo noutras para garantir, a nível nacional e internacional, o melhor para os jogadores e para o país. Felizmente, tive sempre pessoas à minha volta que me ajudaram nesse caminho.
Se cometermos o erro de fazer desta fase negra uma guerra de trincheiras e não procurarmos, em vez de unanimismos, formas de convergência, será difícil não regredir. E já agora, alguém se lembrou que numa situação que arrastou necessariamente a FPF e o COP para o turbilhão mediático, existia um órgão, o Conselho Nacional do Desporto, onde a ação governativa se podia ter feito sentir, sem comprometer a autonomia do desporto?
Aí se poderia ter vincado a necessidade de defender o superior interesse de Portugal. Se tivesse a importância que merecia, acredito que seria o fórum ideal para resolver (ou antever) muitos conflitos. Não contem comigo para diabolizar pessoas. Assim como me apoiou, exemplarmente, na decisão que tomei em manter a posição de Portugal no Board mundial da FIFPRO, o presidente da FPF conta com todo o meu apoio no caminho para que o nosso país volte a estar representado nas mais altas instâncias do futebol europeu.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (6 de abril de 2025)