FIFA vs. UEFA: perde o futebol

A tensão entre a UEFA e a FIFA conheceu um novo capítulo no último Congresso desta organização, com uma debandada de várias federações europeias, provocada pelo atraso de Gianni Infantino, após a digressão pelo Médio Oriente e as visitas aos líderes da Arábia Saudita e Qatar, acompanhado por Donald Trump. Um novo episódio na já desgastada relação do futebol europeu com a organização que tutela o futebol mundial e que, gradualmente, tem retirado o poder de decisão do velho continente, com a FIFA a desenvolver as suas operações políticas e financeiras noutros mercados.
Certamente que as posições assumidas pelo Tribunal de Justiça e demais instâncias da União Europeia, que têm vindo a colocar em causa a posição de monopólio na regulação do futebol e a declarar a desconformidade de normas estruturais do sistema de transferências com o direito europeu, não agradaram à cúpula dirigente da FIFA. Pior ficou a relação com a posição assumida por várias ligas europeias em relação aos calendários internacionais.
Enquanto dirigente da FIFPRO e representante dos jogadores nas instâncias internacionais, existem alguns princípios que me parecem de elementar razoabilidade. Desde logo, não escolher lados e ter a capacidade de estar à mesa das negociações com todos. O perfil das organizações que regulam competições e, simultaneamente, o funcionamento do sistema é muito semelhante, sendo uma ilusão pensar que todas as decisões que afetam os principais atores desta indústria resultam de um processo participativo, em que os vários intervenientes têm a capacidade para aprovar ou vetar soluções que os afetam diretamente.
Além disso, importa perceber os sinais de instrumentalização. É muito fácil receber o apoio institucional para as causas dos jogadores sem que haja um verdadeiro interesse de as suportar. Este veículo utilizado para criar dano num rival político tem-se tornado tão habitual que dificulta um posicionamento claro, independente e capaz de traduzir as necessidades emergentes de uma classe profissional profundamente heterogénea, que enfrenta problemas clássicos de precariedade laboral e novos desafios para a saúde e bem-estar físico e mental.
No meio deste turbilhão, continua a passar ao lado a oportunidade de criar uma indústria justa, capaz de distribuir de forma equilibrada as receitas e implementar mecanismos de solidariedade para que seja sustentável.
Nota final de parabéns ao Torreense, pela conquista da Taça de Portugal feminina, e ao Sporting , pela conquista do título nacional, numa tarde de sábado com muito e bom futebol.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (18 de maio de 2025)