Fim de época: não é para todos


Fechado o calendário competitivo interno, são duas as realidades vivenciadas pelos jogadores de futebol. Na elite, isto ainda não acabou, com Liga das Nações e o Mundial de Clubes já ao virar da esquina. Sinal desta loucura em que se tornaram os calendários é o alerta de vários jogadores sobre o quão difícil é poderem parar. Respondendo à questão colocada no bem-humorado podcast do Salvador Martinha, 'Ar Livre', que esta semana recebeu o bicampeão Pote, o Sindicato está seriamente preocupado com esta realidade, que afeta a saúde, o bem-estar e o melhor rendimento que podia ser dado pelos protagonistas e não é possível manter na longevidade da época.

Aumentaram as participações em jogos 'back to back', isto é, jogadores que fazem pelo menos 45 minutos em dois jogos num intervalo inferior a 5 dias, existe menos tempo de recuperação e preparação das partidas e cada vez menos espaço para gozar o período legal de férias, que em Portugal é fixado nos 22 dias. Para o Sindicato, no plano nacional, e para a FIFPRO, no plano internacional, o direito a férias será irrenunciável e a violação do mesmo um argumento decisivo para fundamentar as ações legais que estão a ser coordenadas. Os intervenientes têm de se sentar à mesa e ouvir as mais elementares preocupações dos jogadores, já não basta medirem entre si quem é que compensa melhor os danos colaterais que são causados.

Na base da pirâmide e voltando à realidade portuguesa temos o lado inverso. Companheiros nossos que atuam no Campeonato de Portugal e, não chegando à fase decisiva da prova, podem ficar até 4 meses sem competir, o que torna ainda mais precária a situação laboral em que muitas vezes se encontram. Os quadros competitivos refletem, cada vez mais, a lógica de privilegiar as provas que têm adesão do público e rentabilidade financeira. Mas esse não pode ser o modelo de desenvolvimento do futebol no espaço europeu.

A base importa muito. Sem ela não conseguimos sustentar o topo, nem crescer em muitos outros indicadores que são decisivos para construir a chamada indústria do futebol profissional. Importa, por isso, olhar para formas de mitigar este problema, refletir sobre o quadro competitivo e formas de apoiar os atletas, dando-lhes ferramentas e criando apoios para enfrentarem esta situação. Para uns acabou cedo de mais, para outros ainda a procissão vai no adro. Desequilíbrios num modelo europeu do desporto que ocupa o presente mandato do 'Working Party on Sport', do Conselho Europeu, que ajudará a definir se damos passos atrás, ou avançamos ainda mais para a experiência de um modelo competitivo à americana.

Artigo de opinião publicado em: jornal Record (1 de junho de 2025)

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