Direitos suportados por evidências

Na última Assembleia-Geral da FIFPRO Europa, em Estocolmo, estiveram representados alguns dos principais atores da indústria, entre os quais a UEFA e as Ligas Europeias. Sem surpresa, os calendários e o tema da sobrecarga competitiva estiveram em debate. Já não é possível ignorar o problema, ainda que nos corredores do poder se verbalize a ideia de que os jogadores querem jogar quantos mais jogos possível, ou a falácia de que só com mais competição se garante o aumento de receitas que, por sua vez, sustentam a indústria.
Já sabemos o quão desequilibrado permanece o sistema de redistribuição de receitas no futebol, que poderia ajudar muito mais na proteção dos salários e de outras garantias laborais. Aprendemos a ter de sustentar as reivindicações dos atletas com evidências científicas e especializadas. Foi por isso que a FIFPRO apresentou mais um relatório, com a chancela do Players IQ, que transmite o consenso de 70 especialistas médicos e em performance, sobre quatro pontos fundamentais: a necessidade imperiosa de, pelo menos, quatro semanas de interregno entre épocas, para garantir a recuperação dos atletas, com pelo menos duas delas a permitir-lhes ‘desligar’ por completo; a necessidade de um protocolo de reentrada na competição, para o qual devia servir a pré-época, de pelo menos quatro semanas até o retomar da alta competição; a necessidade de gerir a carga em função do desgaste provocado por viagens e deslocações, ajustando os calendários dos jogos e a proteção de jogadores com idade até 18 anos, adequando a carga para garantir o seu desenvolvimento físico e mental.
Vale a pena perguntar quantas destas medidas, consideradas essenciais para os especialistas, vão ser respeitadas no caso dos atletas que, chegando à fase final do Mundial de Clubes, saltarão para os compromissos dos seus clubes na nova época europeia? Quem respeitará o período de férias, sacrificando a utilização dos melhores atletas em jogos decisivos, de apuramento ou iniciação de campeonatos?
Para o desconsolo de muitos, o direito a férias e aquilo que ele representa é inalienável da condição de trabalhador subjacente a qualquer futebolista profissional, e não lhe pode ser retirado por qualquer invocação das especificidades do desporto. É, por isso, que as instituições europeias continuarão a ser convocadas para defender estes princípios.
Nota final de agradecimento ao jornal Record, pelo envolvimento do Sindicato na organização de mais uma Gala das Campeãs. Que seja um evento memorável e que, acima de tudo, elas possam ter a voz que merecem.
Artigo de opinião publicado em: jornal Record (15 de junho de 2025)