Não esqueças o meu nome
Monstro Sagrado, o Senhor Coluna ou o Didi da Europa. Foi assim que Mário Coluna ficou conhecido na história do futebol português e mundial. Um jogador que jogava e fazia jogar. Um dos melhores futebolistas de todos os tempos.
Mário Esteves Coluna nasceu a 6 de agosto de 1935, em Lourenço Marques, Moçambique. Filho de pai português – foi antigo guarda-redes e um dos fundadores do Desportivo de Lourenço Marques – e mãe moçambicana, Coluna começou por praticar boxe, basquetebol (não passou da equipa de reservas do Desportivo), atletismo (sagrou-se recordista nacional de salto em altura) e futebol, primeiro no João Albasini e depois no Desportivo. Foi nesta modalidade que ganhou notoriedade e que o levou a ser pretendido por FC Porto, Sporting (superou a proposta azul e branca) e Benfica. Escolheu este último. O benfiquismo do pai e o facto do Desportivo de Lourenço Marques ser uma filial dos encarnados pesou em definitivo na escolha.
Em 1954, com 19 anos, Coluna chegou a Lisboa. Vinha rotulado de avançado mas no Benfica tornou-se um médio de craveira mundial. A estreia com a camisola encarnada surgiu num particular com o FC Porto e, no primeiro jogo oficial para o campeonato português, marcou dois golos na goleada (5-0) contra o Vitória de Setúbal.
“Padrinho” de Eusébio.
As famílias de Coluna e Eusébio conheciam-se de Lourenço Marques e quando o Pantera Negra desembarcou em Portugal já Coluna levava seis anos de Benfica e era uma das grandes figuras da equipa. Eusébio chegou e entregou uma carta a Coluna. Era de Elisa, mãe de Eusébio, a pedir que Coluna olhasse pelo jovem Eusébio. E assim foi. Coluna levou Eusébio a abrir a primeira conta num banco e, todos os meses, tratava das suas finanças até que o adolescente se tornou adulto e constituiu família. Coluna e Eusébio conquistaram a segunda Taça dos Campeões Europeus para o Benfica (em 1961/62, frente ao Real Madrid). Nesta final, a equipa encarnada dispôs de uma grande penalidade. Coluna preparava-se para cobrar o castigo máximo quando ouviu um tímido pedido de Eusébio: “Senhor Coluna, posso marcar o penálti?”. Coluna acedeu e o Pantera Negra fez o 4-3, antes de bisar e fixar o resultado final em 5-3.
No relvado, Coluna impunha respeito. Sem surpresa e com a condição de suplente de Germano, Coluna capitaneou a seleção portuguesa que alcançou um brilhante terceiro lugar no Mundial de 1966, em Inglaterra.
Em Setembro de 1967, teve a honra de ser o capitão de uma Seleção do Resto do Mundo que defrontou a Espanha, em Chamartín, na festa de despedida do lendário Zamora.
Após o Campeonato do Mundo, o médio cumpriu mais três épocas no Benfica até que no final da época 1069/70 assinou pelos franceses do Lyon. A sua festa de despedida do Estádio da Luz decorreu a 8 de Dezembro de 1970. No evento, estiveram nomes como Cruijff, Bobby Moore, Luis Suarez ou Djazic, entre outros.
A aventura no estrangeiro foi curta. Um ano depois de ter emigrado regressou a Portugal para defender as cores do Estrela de Portalegre como treinador/jogador durante uma época.
Após ter pendurado as botas em definitivo, Coluna desempenhou os cargos de treinador (formação e seniores), foi político (ministro do Desporto em Moçambique) e dirigente (presidente da Federação Moçambicana de Futebol).
No seu palmarés conta com 16 épocas consecutivas (de 1954 a 1970) com a camisola do Benfica, dez títulos nacionais, sete Taças de Portugal, duas Taça dos Campeões Europeus (participou em cinco finais) e um terceiro lugar no Mundial de 1966, em Inglaterra. Somou 57 internacionalizações nas quais marcou oito golos.
Mário Coluna, antigo capitão do Benfica e campeão europeu pelo clube encarnado, morreu na tarde do dia 26 de fevereiro de 2014. O ex-jogador de 78 anos estava em estado grave de saúde há algum tempo. A batalhar contra uma infeção pulmonar, Coluna encontrava-se internado no Instituto do Coração, em Maputo, Moçambique.