José Travaços

Integrou os Cinco Violinos, famosa linha avançada do Sporting que espalhou classe pelos relvados nas décadas de 40 e 50. Travaços ficou ainda conhecido como o Zé da Europa por ter sido em 1955 o primeiro futebolista português a integrar a selecção do Velho Continente.

 

No passado mês de Agosto, o Sporting organizou a primeira edição do Troféu Cinco Violinos. Uma justa homenagem a cinco jogadores – Jesus Correia, Vasques, Peyroteu, Travaços e Albano – que marcaram uma era no Sporting e no futebol português.

Travaços foi provavelmente o grande maestro deste quinteto. O antigo jogador e treinador Manuel de Oliveira chegou a dizer que Travaços “foi o primeiro número 10 que o futebol nacional conheceu, se o entendermos nos moldes de organizador como hoje o assimilamos”.

José António Barreto Travaços (22/02/1926 – 12/02/2002) foi e só podia ter sido sportinguista já que nasceu entre o Lumiar e o Campo Grande, precisamente no local onde mais tarde foi erguida a Bancada Nova do Estádio José de Alvalade. Adorava desporto, principalmente futebol e atletismo (corria os 100 metros em 11 segundos). Mas antes de se tornar futebolista de renome teve que aprender um ofício – os tempos eram outros. Em miúdo apanhou pombos numa carreira de tiro perto de sua casa (talvez por isso foi um apaixonado pela caça ao longo da sua vida). Aos 13 anos foi para uma oficina aprender a profissão de torneiro. Três anos depois, aos 16, foi trabalhar para os estaleiros da CUF. Mais tarde passou para as oficinas. Entretanto jogava futebol pela CUF.

Em 1946, foi convidado para jogar pelo FC Porto. Travaços pediu 20 contos e casa mobilidade no Porto. O emblema da Invicta aceitou as exigências mas deparou com um “intruso”: o Sporting. Sabendo do assédio portista, os responsáveis verde e brancos levaram Travaços para Torres Vedras e ali o mantiveram durante 15 dias. Porém, o FC Porto descobriu-o e resgatou-o para o Porto. Inicialmente foi hospedado num hotel e posteriormente transferido para uma casa particular na aldeia minhota do Escaramão, onde ficou durante duas semanas. Mas Travaços não esqueceu o Sporting e o seu sportinguismo. Então escreveu a um dos seus irmãos a pedir que ele, juntamente com os dirigentes leoninos, arranjasse um plano o “safar” do FC Porto. Chegou então ao Porto um telegrama de Lisboa a informar que Travaços tinha de se apresentar na capital para a inspecção militar. Tanga. No dia seguinte, assinou pelo Sporting a troco de 20 contos de luvas e a promessa de 700 escudos de salário mensal.

Perdeu o emprego na CUF e foi trabalhar na Frigidaire. Mais tarde, apoiado pelo Sporting, Travaços, em sociedade com Manuel Vasques, abriu um negócio de construção e reparação de frigoríficos.

 

Sporting e Europa.

Depois de quatro anos na CUF (2.ª Divisão), Travaços chegou ao Sporting em 1946. Tinha 20 anos. Afirmou-se gradualmente na primeira equipa e alguns meses os Cinco Violinos estavam consolidados.

Com a camisola verde e branca, Travaços realizou 454 jogos, marcou 182 golos e conquistou oito campeonatos nacionais e duas Taças de Portugal. Somou ainda 35 internacionalizações (seis golos) por Portugal.

Travaços foi o primeiro jogador português a integrar uma selecção mundial. A 13 de Agosto de 1955 fez parte da Selecção da Europa que defrontou a Grã-Bretanha, em Belfast, nas comemorações dos 75 anos da Federação Irlandesa de Futebol. A Selecção da Europa, com o austríaco Ocwirk, os franceses Vincent e Kopa e o jugoslavo Boskov, entre outros, venceu por 4-1 e Travaços encheu o campo com duas assistências para golo.

Travaços teve outros momentos de pura magia. No seu primeiro jogo com a camisola do Sporting contra o Benfica, em Fevereiro de 1947, marcou três dos seis golos da vitória leonina (6-1). Antes do encontro um ourives de Lisboa prometeu-lhe um relógio de ouro se ele marcasse três golos. E lá ganhou o relógio! Foi ainda protagonista no jogo FC Porto-Sporting (1-4) que aparece no filme “Leão da Estrela” com um golo soberbo. A 26 de Janeiro de 1947, Portugal alcançou a sua primeira vitória oficial sobre a Espanha (4-1). Travaços marcou dois dos golos. 

A 24 de Maio de 1959, com 33 anos, efectuou o último desafio oficial com o Sporting. Foi com a Académica, em Coimbra, a contar para a Taça de Portugal. Os leões venceram por 3-1.

Após pendurar as botas tornou-se treinador das camadas jovens do Sporting. Reformou-se e acabou por morrer no Algarve, após algum tempo doente, a 12 de Fevereiro de 2002. Foi sepultado no Cemitério do Lumiar, em Lisboa. Tinha 75 anos.

Mais Glórias