Vítor Baptista
Nasceu na miséria e a ela regressou antes da morte. Pelo meio, uma carreira futebolística das mais emblemáticas do futebol nacional. Vítor Baptista era “o maior”.

Gabavam-lhe a genialidade mas queixavam-se da loucura. Fruto da necessidade, Vítor Baptista procurou sair da miséria em que nasceu através do futebol. Ficou órfão de pai bastante cedo e a única pessoa a sustentar a família passou a ser a mãe, uma empregada numa fábrica transportadora de peixe. Ao terminar a quarta classe, com apenas 10 anos, Vítor fugiu dos estudos para trabalhar como canalizador, eletricista, merceeiro e carpinteiro. A única companhia que nunca pôs de parte foi… a bola.

Ao longo dos primeiros anos da adolescência, Vítor Baptista participou em diversos torneios e, aos 13 anos de idade, foi descoberto pelo Vitória de Setúbal. Por ali foi jogando e crescendo enquanto atleta. Aos 18 anos já era um dos titularíssimos na equipa sadina e chegou a vencer uma Taça de Portugal, em 1967.

Em 1971, com apenas 22 anos, conquistou o Benfica e o clube da Luz fez tudo para o contratar. No balneário era o único que fazia frente a Eusébio. Disse-lhe um dia, convicto: “Ó Eusébio, eu é que sou o maior!” Olhava-se ao espelho e perguntava-se: “Como é que Deus foi capaz de e fazer tão bonito?”. Um dia apareceu no Estádio da Luz com o cão vestido à Benfica. O que Vítor Baptista tinha de louco fora de campo, exibia de génio na mesma quantidade dentro dele.

Todos lhe elogiavam as capacidades técnicas a caminho da baliza. Marcava golos sem pedir licença e foi uma das figuras centrais do Benfica entre 1971 e 1978. Numa digressão à Rússia, recusou-se a jogar contra atletas russos por lhe parecerem amadores, a ele, que só aceitava jogar com profissionais. A história mais marcante acontece a 12 de fevereiro de 1978. Num jogo frente ao rival de sempre Sporting, Vítor Baptista recebe um passo magistral de Bastos Lopes, recebe a bola de peito à entrada da área, foge a dois adversários e remata para o fundo das redes. Nem sequer celebra o golo. Volta-se para trás e põe meio mundo à procura do brinco que perdeu no decorrer da jogada. O brinco, que até tinha custado uma pequena fortuna (12 contos, na época), nunca mais foi encontrado.

Depois do Benfica, a miséria voltou a aproximar-se da vida de Vítor Baptista. No resto da carreira, houve tempo para o Setúbal, o Boavista, o San Jose (EUA), o Amora, o Montijo, o União de Tomar, o Monte da Caparica e o Estrelas do Faralhão. Depois disso, a droga, as mulheres e o mundo o crime ceifaram-lhe o bem-estar que ainda lhe sobrava. O génio louco morreu a 1 de janeiro de 1999, com apenas 50 anos.

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