André Beaufre (1902-1975)


André Beaufre foi um militar francês que, com uma vasta experiência obtida numa diversificada carreira militar em que combateu em vários cenários de guerras, publicou um conjunto de obras que marcam uma nova etapa na evolução do pensamento estratégico que ficou conhecida como a “escola francesa de estratégia”.

Se existe autor que os treinadores de futebol deviam ler com atenção é André Beaufre. Na realidade, Beaufre utiliza uma linguagem simples e, como ele próprio diz, aplicável a qualquer tipo de confrontação. Ora, como se sabe, o futebol é um jogo de confronto direto entre duas equipas mas também entre dois treinadores que vão querer impor a sua vontade ao outro anulando-lhe a vontade própria para combater. Assim sendo, no confronto com o adversário:

  1. O objetivo permanente do estratega será o da desintegração da vontade do adversário;
  2. A solução ideal é aquela que leva o adversário, pela estratégia psicológica, a submeter-se à nossa vontade.


Na sua obra “Introdução à Estratégia” Beaufre desenvolveu um conjunto de conceitos fundamentais que organizam uma teoria geral da estratégia aplicável, independentemente da técnica ou do momento histórico. Todavia, para Beaufre, a estratégia não é uma doutrina única da exclusividade dos militares mas tão só a descoberta do método circunstancialmente mais indicado para resolver um determinado problema. Deste modo, foi introduzida no pensamento estratégico uma perspetiva filosófica que ultrapassa as questões puramente militares. A partir de então, numa visão holística, a estratégia começou também a abordar questões de ordem psicológica, humana, científica, geográfica e outras o que conduziu ao conceito de estratégia total. Contudo, para Beaufre existe ainda uma estratégia operativa que se situa na charneira entre a conceção e a execução. Quer dizer, uma estratégia operacional para cada atividade já que são os imperativos tecnológicos e as circunstanciais que a vão determinar.

Para Beaufre, a estratégia baseia-se na intuição, na criatividade e na capacidade de síntese que é necessário experimentar na ação (estratégia emergente) através do exercício analítico do planeamento (estratégia deliberada).

Por muito forte que o adversário possa ser o confronto de vontades que envolve a estratégia conduz a uma luta que visa conseguir a liberdade de ação. A luta pela liberdade de ação será sempre a essência do pensamento estratégico de qualquer treinador. Por isso, todas as receitas são falaciosas na medida em que a estratégia adotada deverá sempre ser em função de uma determinada conjuntura. Assim sendo, em qualquer estratégia existem dois pontos distintos essenciais:

  1. Pensamento: a escolha do ponto decisivo que se quer atingir em função das vulnerabilidades do adversário;
  2. Ação: a escolha da manobra preparatória que permite atingir o ponto decisivo.


A arte da estratégia está precisamente na capacidade de articular o pensamento e a ação. Trata-se de, através da liberdade de ação, atingir o ponto decisivo tendo em atenção uma boa economia de forças. Porque, a estratégia é “uma invenção perpétua fundada sobre hipóteses que é necessário experimentar em plena ação, onde os erros de apreciação se pagam imediatamente com a derrota.” E os treinadores de futebol sabem-no bem.