Confronto Directo


Se Carl von Clausewitz (1780-1831) tivesse vivido na segunda metade do século XX, certamente teria dito que “o futebol é a continuação da política por outros meios”.

Na realidade, por tudo aquilo que de económico e político envolve o futebol, num campeonato de soma nula, a estratégia de confronto directo é, certamente, o posicionamento mental mais indicado para um qualquer treinador garantir a vitória, da sua equipa, do seu clube, do seu país.

Ataque & Defesa

A estratégia, antes de tudo, é um jogo dialéctico entre o ataque e a defesa. Assim, para o estratego que deve ser o treinador, os dois conceitos constituem uma antítese lógica, na medida em que cada um deles é o complemento do outro. Quer dizer, não se aplica o princípio da polaridade em que os conceitos estão em oposição, quer dizer, ataque versus defesa.

Por isso, quando um treinador trata do ataque, tem de gerir os mesmos elementos que considera quando trata da defesa, e vice-versa. Isto é, tal como nenhum jogo defensivo se compõe apenas de elementos de defesa, nenhum jogo ofensivo se pode reduzir exclusivamente ao tratamento de elementos de ataque.

Assim sendo, todo o jogo de ataque deve considerar o jogo de defesa. E todo o jogo de defesa deve considerar o jogo de ataque…

Em consequência, se existem custos quando se considera uma estratégia de ataque, existem benefícios quando se considera uma estratégia de defesa. Porque, toda a acção de ataque acaba por ser necessariamente prejudicada pelo indispensável dispositivo de defesa, tal como, toda a acção de defesa acaba por ser beneficiada pelo dispositivo prévio de ataque.

Ataque….

O ataque não se esgota em si mesmo. Há sempre recursos que devem ser desviados da manobra de ataque para precaverem a posterior acção de defesa. Quando uma acção de ataque termina, uma equipa fica imediatamente numa situação defensiva que deve estar antecipadamente assegurada. Por exemplo, a escolha do flanco a atacar é determinada pela posição e direcção das linhas de retirada que suportam as manobras defensivas. O problema surge quando esta coordenação entre ataque e defesa entra em conflito.

O ataque deve coincidir com retirada do adversário e considerar a própria retirada após o ataque estar consumado. Se assim não for, é a derrota á vista… Atacar um inimigo bem estruturado no terreno e competente na acção é uma manobra de alto risco. Em contrapartida, o ataque deve ser tanto mais forte quanto mais fraca for a moral de quem defende.

Defesa…

A defesa caracteriza-se pela resistência ao atacante. Assim sendo:

Qual é o conceito de defesa? O de aparar um golpe.

Qual é o seu elemento mais característico? A espera pelo golpe.

A espera da acção de ataque que distingue a acção defensiva é a sua principal característica, bem como a sua maior vantagem. Porque, um jogo defensivo espera que o adversário abra o jogo e entre nos terrenos da defesa.

Contudo, no futebol, uma defesa absoluta contradiz comple¬tamente o conceito de jogo, na medida em que, assim sendo, só uma das partes está a jogar. Nestes termos, todo e qualquer treinador deve compreender que um mecanismo de defesa tem de, necessariamente, levar a um truque de ataque, sob pena de, se assim não for, alienar o jogo… e o resultado. Por isso, a defesa é constituída por dois momentos distintos:

A espera; A acção.

Estes dois momentos devem ser combinadas num único todo que se processa numa acção contínua, na interacção dos dois estados (a espera e a acção) que se consumam no contra ataque.

Contra-ataque…

O êxito da equipa que defende, passa por preparar o contra-ataque, desde logo para contrariar o ímpeto atacante do adversário. A equipa que defende deve fazê-lo na perspectiva de ganhar vantagem competitiva através da acção de contra-ataque. Só assim, a defesa cumpre o seu papel.

O contra-ataque é a melhor arma da defesa, porque determina a vantagem de uma equipa jogar à defesa. Assim, a transição para o contra-ataque deve ser considerada uma tendência natural do sistema defensivo.

Mas atenção, quando um adversário foge ao confronto sem que tenha esgotado a sua capacidade de luta, está certamente a preparar o contra-ataque. O treinador deve estar atento… Ele sabe que a sabedoria do terreno exige que o golpe de contra-ataque aconteça enquanto o adversário ainda está quente. O contra-ataque consuma-se com um balde de água fria.

Em conclusão…

É necessário considerar que:

A audácia e a confiança são a mais-valia do ataque;

A cautela e a ponderação são a mais-valia da defesa;

Quem defende, tem a vantagem do dispositivo no terreno;

Quem ataca, tem a vantagem da surpresa da acção;

Uma transição rápida e poderosa para o contra-ataque é o momento mais sublime da defesa e aquele que mais perigoso se revela para o ataque.

Finalmente, não existe um método infalível de ataque para todos os meios de defesa, nem um método seguro de defesa para todos os meios de ataque.