Sete leis para prever o futuro


Prever é próprio dos treinadores de futebol. É uma condição natural da sua existência. Eles sabem que a previsão é uma “palavra mágica” que lhes permite idealizar um futuro desejado.

Todavia, antes de fazerem qualquer predição, devem estar certos de que aquilo a que a sua predição diz respeito é predizível, quer dizer, vai, com uma grande probabilidade, acontecer no futuro. Não é fácil.

Repare-se que, como diz Ernest Schumacher, se tudo fosse possível prever, o futuro já estava perfeitamente determinado pelo que não se deixaria influenciar por qualquer acção humana.

Pelo contrário, se nada fosse possível prever não haveria qualquer base racional para se tomarem quaisquer decisões sobre um qualquer futuro caótico que aconteceria sempre à margem de toda a influência humana.

Em ambas as situações, por excesso (é possível prever tudo) e por defeito (não é possível prever nada), não existe a mínima justificação para se fazer o que quer que seja. Por isso, nenhuma das situações tem o mínimo sentido no quadro das decisões que envolvem a vida das pessoas sejam elas ministros, gestores de empresas ou treinadores de futebol.

Contudo, muito embora nenhuma das situações consideradas tenha qualquer sentido, sabemos que o planeamento existe, é útil e há toda a conveniência em utilizá-lo a fim de se organizar o futuro que se deseja construir.

Assim, tendo em atenção que planear o que não se controla é um mero exercício de inutilidade, o desafio do treinador é ser capaz de planear a partir daquilo que está no âmbito do seu controlo, na sua esfera de influência, na certeza de que toda a lógica da sua acção só ganha verdadeiramente sentido se for determinada pelo anúncio do resultado pretendido.

No mundo do futebol, o acto de prever, enquanto prospectiva que é, situa-se no limite do espectro dos saberes constituídos, quer dizer, num espaço próprio e a partir do momento em que as verificações experimentais deixaram de explicar ou de fazerem qualquer sentido.

Quando o treinador prevê, ele rebela-se contra o jugo do determinismo certo e da opressão da aleatoriedade do acaso. Ele actua na fronteira do conhecimento quando combate contra a fatalidade ou aleatoriedade dos resultados, pela força da vontade de criar um futuro de acordo com as previsões anunciadas.

Prever é a função mais nobre de todo e qualquer treinador. A previsão alivia a tensão, atribuiu um objectivo ao projecto, desencadeia vontades, promove sinergias, conduz à acção e prepara a vitória.

Por isso, quando o treinador vaticina alivia a ansiedade dos jogadores, sossega as frustrações dos dirigentes e transmite esperança aos apaniguados. Merecem toda a desconfiança os treinadores que prometem o processo, quer dizer, trabalho, porque aquilo que, para além do trabalho, deles se espera é resultados. Assim sendo, os treinadores têm de ser capazes de determinar os resultados. Eles não são avaliados pelas suas qualificações que podem ser impressionantes; não são avaliados pelos processos de trabalho que podem ser muito bonitos; eles são simplesmente avaliados pelos resultados.

Por isso, quando as previsões acertam com os resultados é a glória. Mas quando falham, o preço a pagar é a cabeça tal como outrora, no campo de batalha, rolavam as cabeças dos generais derrotados.

Para Gilbert Heebner são sete as leis que permitem prever o futuro:

1 - Se o futuro não surge ao acaso, a história também não se repete com exactidão;

2 - De tempos a tempos, surge um choque, geralmente imprevisível, que obriga a sociedade a mudar de rumo;

3 - Na maioria das vezes, o consenso das previsões dos especialistas costuma estar certo;

4 - Sustentar demasiado tempo determinada teoria, pode ser perigoso;

5 - Muitas previsões podem estar certas quanto à sua substância mas não quanto ao seu horário;

6 - As anomalias são sempre significativas;

7 - Aprende-se mais através da forma como se chegou a determinada previsão do que propriamente com a previsão em si.

Presidente do Fórum Olímpico de Portugal