Diplomacia & Futebol


Cristiano Ronaldo foi condecorado pelo Presidente da República com o grau de Grande- -Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. E Cavaco Silva disse: “Ronaldo tem sido um embaixador de Portugal no mundo”.

A pergunta é simples: quantas amizades foram estabelecidas em consequência de uma bela jogada, de um drible extraordinário ou de um golo monumental como só Ronaldo é capaz de marcar; quantas portas já terão sido abertas por Ronaldo nos mais diversos espaços sociais e desportivos; quantos negócios já foram firmados só porque ambas as partes “quebraram o gelo” através da admiração que comungavam pelo futebolista; quantas alegrias, devido à partilha do sentimento de honra nacional, não terá Ronaldo alimentado nos milhares de emigrantes portugueses que labutam no estrangeiro?

Para Fernando Gomes presidente da Federação Portuguesa de Futebol a condecoração que Cristiano Ronaldo recebeu do Presidente da República “reconhece o trabalho que o capitão da seleção tem feito "pela elevação do nome de Portugal". Na realidade, hoje, a seleção nacional de futebol é um dos melhores cartões-de-visita que o País pode apresentar por esse mundo fora. Porque, como refere Manuel Sérgio, Ronaldo é “um herói da cultura, ao lado de qualquer cientista, literato ou artista, notáveis por muitos títulos”.

Em conformidade, independentemente da bondade, da utilidade, dos custos e da miserável competência com que a 3ª edição dos Jogos da Lusofonia foi promovida nos países de língua portuguesa em especial em Portugal e realizada em Goa, não podemos compreender que a delegação portuguesa não tivesse incluído uma equipa de futebol. Porque, o futebol é uma das poucas coisas que de positivo acontecem no País. Hoje, a seleção nacional de futebol faz mais pelo país do que todos o ministros dos Negócios Estrangeiros juntos alguma vez já fizeram. Assim sendo, nenhuma missão portuguesa que se desloque ao estrangeiro para participar em eventos multidesportivos que podem ir dos Jogos Olímpicos aos Jogos da Lusofonia, o deve fazer sem que tenha integrada uma equipa de futebol. E, quando tal não acontecer, deve ser dada ao País uma explicação a todos os títulos plausível sob pena dos responsáveis serem obrigados a assumir as responsabilidades.

O desporto é um instrumento estratégico no domínio do “soft power” cujo conceito, na teoria de relações internacionais, significa a capacidade de um corpo político influenciar o comportamento de terceiros sem ser por meio da força coerciva. Nestes termos, um país como Portugal, pequeno de território, escasso de população, fraco de recursos e sem poder bélico, mas forte de história, de tradição e de cultura, tem todo o interesse em ser possuidor de uma “estratégia soft” de poder no sentido de se afirmar entre países no quadro da competição económica internacional.

Por isso, a pergunta à qual é necessário que os responsáveis saibam responder é a que procura saber qual estratégia a implementar a fim de, no quadro da cultura e do desporto, o País possa ganhar vantagem competitiva no âmbito da economia global. Claro que não é com eventos medíocres como foram as três edições dos Jogos da Lusofonia nem deixando sistematicamente de lado o futebol e os seus atletas mais prestigiados que tal desiderato, alguma vez, será conseguido.