Um adeus que chega demasiado cedo


Falar de uma pessoa amiga, de quem gostamos muito, e nos deixou muito cedo é dolo­roso. No entanto, há muitas coisas a dizer sobre o Lucas.

Conheci o Lucas quando fui do Sporting para o Boavista na época 2004/05 e rapida­mente fizemos amizade e criámos uma cumplicidade que me orgulho. Fomos confi­dentes um do outro, falando de tudo o que era a nossa vida. Ajudámo-nos mutuamente para ultrapassar as dificuldades e as dúvidas que a vida nos foi reservando. Mas espe­cialmente e principalmente partilhámos alegrias, não só as do futebol assim como as privadas num contexto pessoal.

O Lucas era (custa ainda dizer “era”) uma pessoa alegre, divertida, amiga do seu amigo e um bom profissional, lutando até à exaustão para que ele e a equipa atingissem os seus objetivos.

Nos 10 anos que privámos, houve muitos momentos marcantes na nos­sa amizade mas vou destacar três que foram muito importantes para nós:

1.       Quando nos tornámos colegas no Boavista e surgiu a empatia imediata. Aliás, esta empatia era com e de toda a equipa. Isto demonstra que o Lucas era uma boa pessoa e criou ligações fortes por onde passou. A sua energia foi contagiante e ajudou a criar um bom grupo de trabalho. Essa mesma energia era tal que se caracterizava por uma teimosia alegre que fazia com que não desistisse das suas convicções revelan­do sempre um forte personalidade.

2.       Quando foi para a Sérvia jogar no Estrela Vermelha. Separámo-nos mas mantive­mos sempre contacto um com o outro. E continuámos a partilhar as nossas vidas. Foi a consolidação de uma amizade além do desporto. Nesta altura o Lucas realizou o exame médico que mudou a sua vida e tomou conhecimento do seu problema cardíaco. Foi muito duro… De um momento para o outro a vida dele mudou. Pa­recia que o mundo tinha desabado sobre os seus ombros… mas NUNCA desistiu. Procurou outras opiniões médicas em várias clínicas em Portugal e no estrangeiro. Continuou a lutar como era o seu timbre. Sabia a dor que ele sentia por haver a forte possibilidade de ter que abandonar o futebol profissional. Para mim e para os nossos amigos também foi um choque. O Lucas era provavelmente o último jogador que nós imaginávamos que pudesse ter esse problema porque ele era um jogador que deixava tudo em campo, que corria do primeiro ao último minuto de jogo. Nada fazia prever que isso acontecesse. Nas várias conversas que tivemos sobre isto, e tendo conhecimento dos diagnósticos dos médicos, aconselhei-o a não arriscar. Era demasiado perigoso e a vida dele estava acima de qualquer outra coisa. Além disso, não me recordo de algum médico lhe dizer que não corria riscos.

3. Quando foi convidado a integrar-se na equipa do Sindicato de Jogadores Profissio­nais de Futebol como delegado, após ter sido forçado a abandonar a prática des­portiva profissional, o que fez com que continuasse ligado ao futebol que era o seu mundo. Fiquei sensibilizado com a atitude do Sindicato, que mais uma vez esteve presente na hora da dificuldade de um Associado. E o Lucas também… Podia es­crever várias coisas do Lucas, há muito para contar, afinal ele era/é amigo de casa, companheiro de todo o tipo de momentos e estava sempre lá… mas creio que o mais importante neste momento é dizer “obrigado meu Amigo por todos os momentos que partilhamos”.