Cristiano, nascido para ganhar


No Sporting de 2002/03 existia um conjunto muito razoável de jogadores consagrados, nomes com história feita no clube e no futebol português. Era comum haver miúdos das camadas jovens a treinar connosco. Creio que a maioria deles sentia um misto de orgulho e temor. Não será fácil, para um jovem de 16, 17 ou 18 anos, estar de repente a tentar fintar um André Cruz, um Paulo Bento, um Beto, um Pedro Barbosa. Ou a tentar marcar tanto como o Jardel.

Com o Cristiano era diferente. Aos 17 anos já era um rapaz irreverente, sem medo de assumir riscos, de jogar para a frente e, consequentemente, de cometer alguns erros. À qualidade técnica que ficava imediatamente à vista já somava a vontade de ganhar que até hoje o guia dentro de campo. E estou a falar dos treinos!

Nos jogos em que foi participando, toda esta atitude tinha os seus reflexos naturais. Marcou logo na estreia, contra o Moreirense, e foi crescendo com consistência dentro de uma equipa, repito, composta por jogadores de grande valia e experiência.

Na inauguração do novo Estádio José Alvalade, no início da época seguinte, tive a felicidade de marcar dois golos ao Manchester United, mas foi dele que mais se falou nos dias seguintes. É famosa a história da viagem de avião do United para Inglaterra, durante a qual os jogadores convenceram Alex Ferguson a contratar o Cristiano. E lá foi ele!

Voltámos a contactar com maior frequência quando assumi as funções de diretor da Federação Portuguesa de Futebol. Ao longo de mais de um ano já foram bastantes as ocasiões em que estivemos juntos na Seleção Nacional, com um Europeu pelo meio.

Quem vive o grupo por dentro conhece o peso do Ronaldo em todo um conjunto de aspetos que passam despercebidos ao público e aos observadores em geral. É fácil para mim, hoje, perceber porque Luiz Felipe Scolari o escolheu para capitão de equipa. É um líder por natureza e mantém uma excelente relação com os colegas. É um rapaz brincalhão nas horas em que se pode brincar, e transforma-se, na hora de competir, num modelo de concentração quase inimitável. Além disso, incute aos colegas esse sentido de responsabilidade e essa indomável vontade de vencer.

O Cristiano é uma pessoa simples e preocupada com os menos favorecidos. Recentemente soubemos, por exemplo, que se tornou embaixador da “Save the Children”, instituição que zela por uma boa alimentação de crianças de todo o mundo. Mas ele ajuda muito mais pessoas e instituições, embora a maior parte das iniciativas não seja do conhecimento público. Como deve suceder com os verdadeiros beneméritos.

Ronaldo tem, na corrida anual à Bola de Ouro, um adversário cuja qualidade todos reconhecemos. Já ganhou e já perdeu. Trata-se, contudo, de um futebolista com uma incrível regularidade de exibições e golos, ano após ano. O Cristiano sabe que num jogo menos conseguido pode deitar muita coisa a perder, e por isso nunca facilita. Porque nasceu para ganhar e tem muitas épocas pela frente na carreira, tenho a certeza que voltará a ser reconhecido como melhor futebolista do mundo.