Emoções, comportamento, rendimento, resultado
Entramos numa fase decisiva para o apuramento de competências no sentido de validar pontos para a conquista de um título, o acesso à Liga dos Campeões ou demais provas da UEFA ou, em caso contrário, à sufocante fuga a possíveis descidas de divisão.
Quem for capaz de ultrapassar as exigências da competição de forma emocionalmente mais equilibrada, revestidos por isso de um lastro, não tanto de capacidades intelectuais, atléticas ou funcionais, mas identificados de um estado de alma e confiança nas acções a converter, no prazer em realizar, na motivação em se envolver e no orgulho a confirmar, poderá estar mais próximo do êxito, pois sabemos que as expressões sentidas em acto, como consequência dum estado emocional, tornam-se por vezes altamente reveladoras na tomada das decisões mais eficazes.
Entre o sentir e o pensar não existem fronteiras. Por isso o sentimento arrebatado para se obter um estatuto de vitória também é gerador de um estado de crença como força motriz de intencionalidade operante, que por consequência induz atitude de significado superior para o sucesso e… como refere Ghandi “quem acredita numa coisa e não faz tudo o que acredita, veste a pele de covarde”.
Esta corrente de sucesso conseguido é capaz de perdurar mais no tempo, derivando para uma consciência mais operativa no sentido de validar o sucesso, permitindo influenciar o colectivo para o estado de performance. O comportamento dos jogadores após os êxitos obtidos são distintamente diferentes após as frustrações realizadas, vendo deste modo a assunção da bem explícita qualificação do seu rendimento.
Por outro lado, jogadores emocionalmente traídos por resultados negativos são originários de estados de maior dificuldade de concentração, vendo diminuído o seu estado de alerta onde sempre espreita uma crise de raciocínio, provocando um estado de negligência e desânimo – muitas vezes encontra-se aqui a causa de uma derrota.
Mas, a capacidade humana para se adaptar e superar adversidades é por vezes fenomenal. A experiência nos tem dito que somos capazes do melhor quando as coisas se tornam previamente mais difíceis e também do pior quando as mesmas se apresentam mais acessíveis. Certas derrotas escandalosas demonstram que somos os piores terceiro-mundistas e as vitórias quase impossíveis fazem-nos crer que somos tão bons como os outros… Do jogo como da vida, de um momento para o outro nos catalogamos como os mais pobres dos ricos… como os mais ricos dos pobres… E os jogadores, como refere Patmore, são também maravilhosamente imprevisíveis. Quando colocados numa “arena ou estádio” e as suas esperanças e medos são expostos em frente de milhares de pessoas, são capazes de fazer coisas extraordinariamente bem feitas e, logo a seguir, extraordinariamente mal feitas. Para alguns, o primeiro obstáculo está na incapacidade para ultrapassar o próprio receio para enfrentar a competição. Por vezes até se assiste a uma diferença abismal em participações excelentes nos treinos, com performances chocantes nas competições. É como se tudo fosse esquecido!...
As transformações do estado de consciência fixa-se por vezes mais nos objectivos de conquista e menos naqueles que estão no terreno para os conquistar e, como sabemos, quem se foca mais na consequência e menos na causa pode ficar a meio da viagem, vergado pelo efeito devastador das incapacidades para o conseguir.
Daí que, de há uns tempos a esta parte, tenho vindo a persistir numa permanente luta para uma nova fenomenologia do treino desportivo. Não tem sido fácil, já que por aí sobram muitos especialistas que apregoam ideias, algumas delas gastas, sempre associadas a uma certa futilidade, revisitando-se ao espelho da sua própria ignorância. No entanto, em abono de realidade, sendo confirmada em vários êxitos conseguidos, posso atestar que, com a inserção de competências, em especial no domínio da motivação, stress, ansiedade e rendimento, coesão de grupo, atenção e concentração, formulação de objectivos, etc., etc., e neste caso específico ao nível das emoções e comportamento, isto sendo associado, repito, às vertentes táctico-técnicas, atlético-funcionais no ciclo semanal de treino, estaremos muito mais próximo dos êxitos a obter.
Neste âmbito posso destacar as técnicas de confronto no sentido de o jogador se auto comunicar, falando consigo mesmo no decorrer do jogo de forma enérgica, auscultando o seu estado de consciência operativa, experimentando a conversão numa avaliação dos seus rankings de sucesso (passe, recepção, remate, desarme), sendo capaz de controlar as situações, como em casos de substituição, a impetuosidade do espectador, a agressão verbal do adversário, má decisão da equipa de arbitragem, etc., refreando os impulsos que poderão causar sensações perturbadoras, transferindo para a função de jogo as melhores respostas, servindo como postura exemplar. Nessa convicção profunda nas jogadas a realizar, revisitando a experiência fantástica anteriormente exercida, poderá essa voz interior transformar-se numa âncora de convicções autenticadas. Associar a estas imagens figuras fundamentais da sua vida pessoal, temos um belo significado para a excelência. Reside aqui o melhor combustível para o desempenho.