O talento do jogador português


Um Jogo de Futebol é portador de uma magia inigualável. Como diz Gar­ganta (2002), em 90 minutos é possível condensar várias histórias e repro­duzir muitas das graças e desgraças da vida. Daí um dos seus principais encantos – uma obra de arte cuja magnitude social muitos pseudo intelec­tuais ainda não entenderam.

A essência do futebol reside no seu carácter lúdico, transposto para um patamar cultural indispensável na formação de uma sociedade projectada para uma vida universal, apelando ao despertar de uma inteligência co­lectiva, numa exigente adaptação às múltiplas situações que a prática do belo jogo impõe. Daqui, emerge uma figura capaz de despertar o prazer na concretização dos seus objectivos de conquista – o TALENTO. As crianças, através da prática do jogo espontâneo, aprendem a controlar as suas emo­ções, estabelecem uma partilha comunitária, de canseiras repetidas até ao limite, num desafio pela conquista do suor experimentado numa paixão continuada. Das praças, ruas, montes… sem árbitros, balizas marcadas com pedras sobrepostas, quantas vezes descalços, para não estragar a bola, sem hora marcada… tinha lugar o Futebol de rua!...

Hoje, a maioria dos jovens cresce em ambiente hostil para o desenvolvi­mento da sua criatividade. O contexto familiar e escolar caracteriza-se por normas restritivas, a ausência de espaços livres e o comodismo impõe as suas regras. Perde-se assim a alma do jogo que o Futebol de rua fazia eclodir e transita-se para as escolas de Futebol a relação com a aprendi­zagem do jogo.

Por vezes a sistematização dum ensino pedagogicamente standardizado, e, com uma agravante motivação para para a clonagem de jogadores, reti­ra ao génio o seu verdadeiro espaço.

No entanto o jogador português continua a responder de forma afirmativa como em poucas actividades se vêem realçadas.

Mas, se longe temos levado este processo do jogador português, a respos­ta a um melhor desempenho pode ainda ser potenciada, o que alguns Clu­bes por intermédio das suas academias já desenvolvem e, por isso, julgo ser de inteira justiça ser mencionado.

Quero anotar de forma justa a relação de quem se entregou com tanta vida ao Futebol, o já saudoso Lucas. Primeiramente enquanto jogador e depois no apoio através do corpo sindical a quem sofre as vicissitudes do abandono, tendo sempre um ombro… uma palavra de esperança, mistu­rada com um sorriso de confiança. Foi assim no último encontro no meu Instituto Universitário da Maia na entrevista muito bem trabalhada e refe­rente a outro valor acrescentado Fábio Faria, nosso aluno e exemplo de vida académica na sua preparação para outro patamar de consistência profissional.

Ao referir o nosso Lucas, cito Valdano, quando refere:

“Jogar bem não chega quando não se ganha… ganhar não chega se não se joga bem… ganhar e jogar bem pode não chegar se não tivermos jogado­res de grande nível… e ao grande nível não se chega jogando apenas bom Futebol”. No coração da gente simples sempre habita uma cultura muito própria que se reveste de um sentimento e se transforma em saudade. Que descanse em PAZ.