A construção do sucesso na pré-época


Tem-se assistido a uma evolução na planificação da época desportiva, quer ao nível das concepções, como das operacionalizações das temáticas das cargas de treino, em relação ao volume, intensidade, especificidade, recuperação, densidade etc., estabelecendo-se metodologias para que o sucesso apareça e se prolongue no decorrer duma época.

Qualquer tra­balho que se destine ao planeamento tem de obedecer a: meio (material), potencial humano, capacidade socio-económica; equipas técnica e médi­ca; atletas (dados pessoais, historial técnico, competitivo, desportivo e clí­nico); calendário (treinos, jogos, competições); selecção, meios e métodos de treino; definição do modelo de jogo, etc..

Em tempos que a memória não me atraiçoa havia um código referencial em que se periodizava uma época desportiva em três fases, geralmente agrupadas em três grandes períodos ou etapas: período preparatório, de aquisição da forma desportiva, período competitivo, de desenvolvimento da forma desportiva, e período de transição, correspondente ao tempo que intervala o final das competições e o início da nova época.

Dada a intervenção de um modelo “importado” (Matveiev), em que se pri­vilegiava um conceito baseado nos “picos” de forma, as cargas de treino tinham uma orientação para que a equipa aparecesse em determinados momentos em “alta rodagem” e, de forma cíclica, baixava o rendimento. Mas houve a necessidade de substituir esse modelo, pois no futebol, mais importante do que os “picos” de forma, interessava a estabilização do ren­dimento como máxima garantia para resultados de nível superior.

Percorri enquanto técnico de observação e qualificação do jogo e meto­dólogo de treino, desde 1981/82 até finais da década de 90 (V. Guimarães, FC Porto, SC Braga e V. Guimarães), todas as etapas correspondentes e com resultados (alguns deles que a história de sucesso jamais apaga­rá). Contudo, não há receitas onde se possa pesquisar as condições que resultem no êxito absoluto.

São várias as ciências que “emprestam” ao futebol um contributo extraordinário das suas valências, como a fisiologia, a metodologia de treino, a estatística, a psicologia, a nutrição, etc., que, associadas a uma programação cuidada em treino, conduzirão ao sucesso.

Por isso, jamais devemos esquecer que quão importante é trabalhar (quer na pré-época como no decorrer da mesma) no treino a força, a agilidade, a destreza, a velocidade, os princípios defensivos e ofensivos, as transi­ções e bolas paradas, etc., inseridos de metodologias que, por exemplo, promovam a confiança no jogador; operacionalizar técnicas de redução de stress para obtenção de níveis óptimos de desempenho, utilizando técni­cas de relaxamento (marcação de livres, grandes penalidades, etc.); inserir no conceito de treino um elemento fundamental, que poderá resultar na simulação de condições adversas que os jogadores irão ter no jogo, etc..

Numa pré-época, ao colocar todas estas dominantes em formas de jogo, está a potenciar-se argumentos onde os tão famosos automatismos, con­substanciados em rotinas, acabam por oferecer a expressão duma equipa como um todo, que pensa, executa e vive de forma coesa e solidária!