O drama às portas do estádio


“Os seres humanos são maravilhosamente imprevisíveis. Quando colocados numa arena ou num estádio e as suas esperanças e medos são expostas perante milhares de es­pectadores, eles são capazes de fazer coisas extraordiná­rias”. (Patmore).

O jogo de futebol desperta paixões, suscita críticas, inspira artistas, podendo mesmo dizer-se que o me­lhor dele está nos muitos mundos que contém e naquilo que este pode dar ao mundo (Garganta 2004, cit Ribeiro, 2008).

Como sabemos o futebol tem um forte impacto na socieda­de, justificado pelo maior impacto social transmitido pelos media, envolvendo directa e indirectamente biliões de pes­soas quer na sua prática, quer na condição de adeptos e pro­fissionais pelos serviços prestados.

Daí que qualquer jogo e especialmente quando estão em campo selecções de países deste mundo global, fenómeno de consumo como expressão de alta popularidade, gerando impacto nos hábitos e atitudes de um povo, podendo mesmo constituir-se como um labora­tório de análise social.

O futebol assume-se como um fenó­meno de grande complexidade, servindo de espaço de união ou dispersão, alicerçando de forma abrangente toda uma so­ciedade sem fronteiras, onde a sua linguagem universal se documenta e exalta.

Perante a dinâmica que o jogo faz incidir e da importância excessiva atribuída tanto às vitórias como às derrotas, pode desempenhar um papel projectivo e colec­tor de frustrações dos adeptos quando perdem e exaltação desmedida daqueles que simplesmente ganham.

Aproveitando-me dos últimos acontecimentos que se revisi­tam na minha memória, ocorridos no Stade de France – Pa­ris, na noite de 13 de Novembro, e localizando-me nas portas de entrada do estádio, com a deflagração de corpos por au­toflagelação, o que seria caso esta monstruosidade tivesse sido do conhecimento a quem assistia e jogava o França – Alemanha?

Fuga dos jogadores para os balneários… multidão em desor­denadamente apinhada junto aos acessos para o exterior… sei lá, talvez muito mais grave do que a história do Heysel Park em Bruxelas na final da Taça dos Campeões em 29 de Maio de 1985, entre Liverpool e Juventus, fazendo-se cons­tar dezenas de mortos e centenas de feridos.

Será assim que poderemos apresentar como combate este futebol, transferindo-o para um jogo fantástico apelando a raros e únicos momentos de inspiração em movimento onde a harmonia do gesto, insubordinado umas vezes, inspirador e belo noutras, mas sempre emocionalmente excitante, em especial para aqueles que das adversidades vão forjando as oportunidades, fazendo por vezes despertar o talento de quem pela dignidade, competência e razão é capaz de alcan­çar o êxito… muitas vezes com o exemplo e sacrifício da sua própria vida!...