FUTEBOL, Um Jogo SOLIDÁRIO
O Futebol torna-se nos dias de hoje, como por vezes nos dias de ontem, agressivo no trato das palavras e das ideias, demente entre as pessoas que o consomem e até pré-histórico nas ameaças que espreitam o conflito e dele se alimentam.
Quero como nota de reconhecimento para o convite formulado para continuar a colaborar na “nossa” revista dos JOGADORES, quero aproveitar para saudar o AMIGO Presidente do Sindicato e através dele todos aqueles que no campo expõem a sua magnitude de fazeres e deveres para justificar o contributo que do belo JOGO também pode renascer na aliança do espectáculo com a vida – UM JOGO SOLIDÁRIO.
O jogo de Futebol é indiscutivelmente nos dias de hoje como o tem sido ao longo dos tempos, a modalidade desportiva de maior impacto na sociedade, capaz de orientar a imagem que a mesma representa, sendo quantas vezes influenciado por ela. A essência do jogo reside no seu carácter lúdico transposto para um patamar cultural indispensável na formação duma sociedade, apelando ao despertar duma inteligência colectiva numa exigente adaptação às regras dum bem entender para um bem-fazer.
... e é nessa viagem do tempo que encontramos a magia da bola transferida do sinal do sol ou da lua feita luz no iluminar dos caminhos do progresso, empurrada com o pé no ano 2597 a.C., mais tarde jogada em templos sagrados, que acompanha a história, entretendo, preparando para a guerra, educando pela dinâmica dum jogo, festejado pelo rito da fertilidade de um povo.
... essa bola cravada numa época dos finais do Séc. XIX, mais propriamente datada de 6 de Outubro de 1863, quando 11 dirigentes provindos das universidades de Eton, Oxford, Cambridge, se reuniram na Free Maison´s Tavern e fundaram a Football Association – rolou essa bola impossível de parar... e quando a bola rola há como que uma labareda de emoções em que o humano impõe a sua marca. Por isso, a expressão de uma prática para o ser em toda a plenitude, exige uma solidária capacidade de relação onde aparece o homem e o seu aporte físico, biológico, social, político, cultural e onde a ciência e a consciência não se limitam à degradação dos gastos energéticos e neuromusculares, apelando ao compromisso duma ampla solidariedade.
Um Jogo Solidário – onde as crianças e jovens cedo aprendam, pela sua prática a controlar as suas emoções, capazes de comungar uma partilha de dar e receber e onde paixão, a alegria e a motivação farão coisas admiráveis.
Um Jogo Solidário – como expressão de afectos de gente que não vê, gente que não fala, gente que não ouve, mas que joga, acumulando vivências admiráveis, com um sorriso coberto de suor e afectos.
Um Jogo Solidário – como expoência do maior espectáculo do mundo e como refere Javier Marias “onde não basta ganhar, mas ganhar sempre. Um escritor, um arquitecto, um músico, numa obra apenas, podem dormir uma sesta depois de criar um grande romance, um maravilhoso edifício, um disco inesquecível... e adianta: o Futebol não aceita o descanso... ter sido ontem o melhor, não chega se não continuar a ganhar”!... Mas, constata Valdano: “jogar bem não chega quando se não ganha... ganhar também não basta quando não se joga bem e ganhar e jogar bem pode não chegar senão houver jogadores de alto nível e ao alto nível não se chega, jogando apenas bom Futebol”.
Um Jogo que para ser Solidário terá de mobilizar num permanente e incessante compromisso:
OS JOGADORES – que carregam uma cruz duma vida virtualmente fácil, abnegada e talvez incompreendida!
OS TREINADORES – quando lideram aquela força inquebrantável dum saber fazer bem feito!
OS ÁRBITROS – quando usam a competência como juízo de valor técnico, a imparcialidade, como juízo de valor humano e a autoridade como juízo de valor técnico e humano!
OS DIRIGENTES – quando arrancam do seu labor ocasião e forma de protagonizar para o seu clube o tesouro dos maiores entre os grandes!
OS ADEPTOS – quando gritam e vibram com o peso da sua bandeira numa profunda relação de afectos no apoio participativo.
... deste modo estou convicto que do belo JOGO sempre sobrariam notícias... notícias de paz e generosidade e duma inatacável honestidade de processos, podendo ver-se aglutinadas um nível superior de relação entre as pessoas, onde as noções do belo, do estético e do ético fariam os acordos duma admirável existência.
De facto e se repararmos bem, o jogo de Futebol dispõe de uma magia inigualável – durante 90 minutos é possível condensar muitas histórias e reproduzir muitas das graças e desgraças da vida. Daí um dos seus princípios e encantos, como diz com frequência o meu Estimado e Ilustre Amigo Prof. Doutor Júlio Garganta.
Futebol, um Jogo, uma obra de arte cuja magnitude social muitos pseudo-intelectuais ainda não entenderam, ou entendem, mas por muito que lhe queiram sugar a seiva que lhe dá cor… ficam por aí encostados às bilheteiras!