Cristiano Ronaldo, perfil de um campeão
Os seres humanos são maravilhosamente imprevisíveis. Quando colocados numa arena ou num estádio e as suas esperanças e medos são expostas perante milhares de observadores, eles são capazes de fazer coisas verdadeiramente extraordinárias. (Patmore, 1979).
O jogo de futebol é inquestionavelmente, nos dias de hoje, como tem sido ao longo dos tempos, a modalidade desportiva de maior impacto na sociedade, cuja prática ultrapassa o patamar de simples ludicidade para no apelo a constantes e múltiplas exigências, se converter numa alternância de funções com um elevado grau de complexidade.
Sabemos que a dinâmica do futebol moderno exige jogadores rápidos, fortes, inteligentes, capazes de vencer resistências e manterem níveis elevados de rendimento na presença da fadiga. No entanto para além das competências exercidas, a emoção, o imponderável, o inacessível, o golpe de génio, são fatores a ter em conta e que por vezes alimentam a magia que faz implicar um resultado.
Todos sabemos que a grande diferença do jogador com elevados índices de resposta, para o jogador que atinge os níveis de excelência, estará naquele que reúne um conjunto de competências absolutamente únicas, não apenas ao nível técnico, tático e biológico, mas, fundamentalmente humano e aí, entra a capacidade de atenção e concentração, o controlo do stress e da ansiedade, o exercício da autoconfiança, o domínio da imaginação e visualização mental e a formulação de grandes objetivos de conquista que, em última análise, transforma as situações difíceis ou quase impossíveis como elemento de absoluto encorajamento para a obtenção do sucesso.
Nesta conformidade, me parece que poderei encontrar neste domínio uma das possíveis explicações para definir o perfil de CAMPEÃO do NOSSO CRISTIANO RONALDO.
Por isso, quando muitos, quase uma nação inteira, se vergou perante um resultado que parecia comprometedor, o NOSSO CAMPEÃO abria com o seu olhar no infinito os horizontes da esperança, convertendo em cada passada uma viagem de sonho, fazendo de cada remate um golo e outro e mais outro, elevando as espectativas de alguns deuses que até aí, mais pareciam adormecidos.
Ali entrou o líder que converteu em apologia os seus argumentos de menino ilhéu, que, sem conhecer os atalhos do facilitismo fez a viagem do tempo, pugnando perante a adversidade o despertar do seu talento e da jovialidade viu convertida a paixão por uma exigência expressa em suor bem participativo.
Cristiano Ronaldo faz da capacidade para o trabalho perseverante uma forma de prazer pela vida bem testemunhada na arte de bem jogar. Com ele se constata uma linguagem de amor e raiva no toque da bola - a virilidade, a violência e a agressividade com que se debate perante os adversários -, ele é capaz de transformar em sucessivos movimentos de inspiração onde a harmonia do gesto se combina com uma eficácia emocionalmente excitante.
Como diz o “nosso” querido Professor Manuel Sérgio: “ser um atleta excecional ou até genial é sem dúvida alguma a capacidade de o distinguir pelos primórdios técnicos, pela inteligência tática e pelo superior rendimento em relação aos demais, mas sobretudo (acrescenta), é essencialmente ter a capacidade de estabelecer uma relação de fidalguia com todos eles. Fora desta distinção e de integração, o atleta excecional não se pode compreender”.
Neste desígnio de personalidade, em que a aliança do saber com o fazer se viu convertida numa força mobilizadora que, na qualidade de capitão, se constituiu, quanto a mim, como dínamo que serviu para iluminar os caminhos que nos conduziu ao sucesso.
Nessa noite de 19 de novembro pelas 21horas e 33 minutos, compreendi melhor uma frase que tinha lido no Diário XI de um dos meus autores privilegiados, Miguel Torga “Mesmo absurda, toda a esperança é sagrada”.
VIVA PORTUGAL!