Sindicato dos Jogadores pronuncia-se sobre o cancelamento da II Liga 2019/2020
Decisão do Governo tomada esta quinta-feira.
Após ter conhecimento da decisão do Governo, com base na qual apenas se poderá retomar, na época 2019/2020, a I Liga e realizar a final da Taça de Portugal, retoma essa que ainda dependerá da aprovação do plano para reorganização do calendário competitivo, organização dos jogos e logística associada, pela Direção-Geral de Saúde (DGS), e sem prejuízo dos esclarecimentos da Federação e da Liga, o Sindicato não pode deixar de comungar do sentimento de desilusão e preocupação que afeta todos os profissionais que competem na II Liga.
O Sindicato acredita na boa-fé de todos os intervenientes na defesa do futebol, nomeadamente do Governo, da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portugal, e que subjacente a esta decisão não esteve qualquer discriminação entre profissionais da I e II ligas, nem sequer razões relacionadas com a capacidade económica dos clubes para encontrar as soluções desejadas, mas a análise dos peritos médicos e da DGS no sentido de que não é possível implementar, com a segurança exigida para todos, um novo plano de funcionamento da competição, para os dois escalões, nesta época.
Tal como aconteceu com os profissionais das equipas do Campeonato de Portugal, o Sindicato encara esta realidade com enorme preocupação, por saber que se irão, certamente, agravar os problemas já existentes em várias equipas da II Liga, acompanhados desde muito antes do início da crise provocada pelo Covid-19.
Tal como vem acontecendo no plano internacional, os jogadores exigem das entidades desportivas o respeito que o momento exige. Muito para além da proteção da sua saúde, querem soluções ao nível da proteção dos seus postos de trabalho, do pagamento dos seus salários, da proteção social e no desemprego. Este é momento de analisar friamente e chamar a assumir a responsabilidade as entidades que tutelam o futebol em Portugal. O Sindicato exige que assumam, em articulação com o Governo, que se a retoma não pode ser garantida, os direitos dos jogadores e trabalhadores destas sociedades desportivas têm de estar salvaguardados.
A decisão é difícil de compreender para muitos jogadores que tinham a expetativa de retomar a competição esta época, que se prepararam para isso com total empenho, que estavam alinhados com os seus clubes nessa vontade de querer competir, já esta época. O Sindicato compreende e partilha da angústia e desânimo, mas deixa claro que não aceitará o aproveitamento desta situação e a instrumentalização da mesma por aqueles que têm permanecido em silêncio e nada têm feito sobre todos os problemas estruturais que afetam o futebol português.
É demasiado fácil criticar agora e este não é tempo para lições de moral. O Sindicato acredita que Federação e Liga não tiveram alternativa possível, sabe bem do respeito que o presidente da Federação Portuguesa de Futebol tem demonstrado em diferentes momentos pelos jogadores e o contributo para melhorar o estado da sua profissão, assim como sabe que o presidente da Liga, apesar de todas as divergências que marcam as lutas de classe, tem a seu cargo a tarefa de gerir um ambiente de permanente hostilidade, onde cada clube se tem preocupado mais com o seu interesse individual do que com a indústria no seu todo.
Neste dia 1.º de maio, o Sindicato reafirma o seu compromisso para com os jogadores e o futebol português, invocando as gerações de jogadores que, com prejuízo pessoal, garantiram direitos fundamentais. Apelamos à união de todos para encontrar soluções e pedimos a quem viu os interesses e objetivos individuais frustrados, o sentido de responsabilidade que o momento exige. Nada vai ser igual, nem para os jogadores, nem para os demais portugueses. Se não houver união, sentido de responsabilidade e trabalho sério de todos os intervenientes, não é esta época que fica afetada, são sobretudo os próximos anos.
O futebol português, liderado pela Federação Portuguesa de Futebol, não poderá deixar de dar resposta aos jogadores e aos clubes profissionais, nomeadamente os mais carenciados, garantindo que os direitos adquiridos e irrenunciáveis, desde logo o direito ao salário, não sejam postos em causa.