Recordar Vítor Oliveira: “Um homem correto, frontal e amigo do amigo”


Representantes do Sindicato dos Jogadores lembram o falecido treinador.

O treinador e ex-jogador Vítor Oliveira partiu, de forma inesperada, este sábado, 28 de novembro, aos 67 anos, na sequência de um ataque cardíaco enquanto fazia uma caminhada em Matosinhos.

O percurso de Vítor Oliveira no futebol português fala por si. Primeiro como jogador, cumprindo 236 jogos com 19 golos marcados numa carreira na qual representou o Leixões, Paredes, Famalicão, SC Espinho, SC Braga e Portimonense, e, depois, como treinador, onde se notabilizou com 11 subidas de divisão da Segunda à Primeira Liga, tendo orientado 19 clubes em 35 anos de carreira.

Vítor Oliveira era um homem consensual no futebol português, conduzindo mais de uma dezena de clubes ao sucesso. Neste momento de profunda consternação pelo falecimento do seu associado, o Sindicato recorda o mítico treinador e ex-jogador, escutando aqueles que trabalharam de perto com Vítor Oliveira.

José Carlos, João Oliveira Pinto, João Paulo e Tiago Pereira, membros da equipa do Sindicato dos Jogadores que foram treinados por Vítor Oliveira, prestam uma homenagem ao malogrado técnico, recordando alguns dos episódios que os marcaram na relação com o ‘rei das subidas’, como era conhecido. Aqui fica a homenagem do Sindicato dos Jogadores:  

José Carlos (vice-presidente do Sindicato e ex-jogador de Vítor Oliveira no Vitória SC e Belenenses):
“Vou contar dois episódios que vivi com o míster Oliveira, um no Vitória SC e outro no Belenenses. No Vitória SC estive pouco tempo com ele, mas marcou-me muito pelo facto de as coisas estarem a correr mal e de o presidente da altura, Pimenta Machado, querer que ele se demitisse. O Vítor sempre foi um homem muito frontal e direto, nunca abdicou daquilo que eram os seus direitos e ele dizia-nos sempre isso. Apesar de os resultados não estarem de acordo com aquilo que eram as expetativas, ele não se iria demitir e só sairia se o presidente o mandasse embora. Foi ficando e o presidente foi sempre criando, mesmo através das claques, um ambiente hostil para ele. Durante os treinos tinha elementos das claques a fazerem barulho por causa dos maus resultados, mas o Vítor mantinha a calma e a serenidade, fazia o seu trabalho e acabou por se ir embora, mas por vontade do presidente e salvaguardando os seus direitos.
No Belenenses, fiquei com muito boa impressão dele. Em 1999, no meu último ano de Vitória SC, fui operado ao joelho no final da época e só podia voltar a competir em setembro. O míster Oliveira quis que eu fosse com ele para o Belenenses, falou comigo, perguntou-me pela lesão, informou-se do meu estado físico com o fisioterapeuta e o meu médico, e, apesar de estar de canadianas, contratou-me e deu-me um voto de confiança. Isso marcou-me muito, ajudou-me numa altura difícil da minha carreira, porque estava lesionado e torna-se mais difícil arranjar clube nessas circunstâncias.  
Era uma pessoa com sentido de humor, frontal, direto, honesto, não tinha papas na língua, pensava pela sua cabeça, tomava as decisões de acordo com as suas ideias, não se deixava influenciar e fez a sua carreira sem agente. Era um homem livre.”

João Oliveira Pinto (delegado do Sindicato e ex-jogador de Vítor Oliveira no Gil Vicente):
“O míster Oliveira marcou-me muito como pessoa. Não enganava ninguém, era frontal e não estava com rodeios quando falava aos jogadores. O trabalho dele está à vista de toda a gente, não é qualquer um que tem 11 subidas no currículo. Depois de ter sido treinado por ele, era agradável quando o reencontrava. Era uma pessoa com um coração enorme. Tive a felicidade de trabalhar seis meses com ele e custou-me imenso saber da sua morte.”


João Paulo (delegado do Sindicato e ex-jogador de Vítor Oliveira na UD Leiria):
“O episódio que mais me ficou na memória foi logo no primeiro dia dele na União de Leiria, em 2007. O míster Oliveira entrou para substituir o Paulo Duarte e, quando há uma mudança de treinador, os jogadores estão sempre mais vivos no primeiro treino. Recordo-me de um colega que não era dos jogadores mais agressivos e no primeiro treino com o míster Oliveira estava a dar carrinhos. O míster parou o treino e disse: ‘Ai agora já fazes carrinhos? Com o anterior nada! Se hoje estás assim, quero ver como vai ser daqui para a frente…’. Logo no primeiro treino, o Vítor Oliveira aproveitou aquela mensagem para exigir de todos o máximo daí para a frente. Era um treinador exigente, um líder em todos os sentidos, muito frontal, bem-disposto e amigo. No meu percurso, tive a sorte de o ter encontrado durante a minha carreira. No meu caso, estive poucos meses com ele e proporcionou-me a maior transferência da minha carreira [para o Rapid Bucareste]. Foi fantástico. Era um homem correto, ninguém tem nada a apontar, sempre foi seguro no que pensava e seguiu aquela linha que imaginava que seria o ideal e a prova é que toda a gente a nível nacional o respeita e foi uma perda imensa para o futebol e para o país.”

Tiago Pereira (vogal da Direção do Sindicato e ex-jogador de Vítor Oliveira na UD Leiria e Trofense):
“As recordações que tenho do míster Oliveira são as melhores. Quando soube da notícia da sua morte, não estava à espera, nem acreditava, foi um choque. Tinha uma relação muito próxima com o Vítor Oliveira. Na semana anterior tinha falado com ele para marcarmos um almoço porque de vez em quando estávamos juntos. Foi um treinador que me marcou pela positiva e até à data preservámos a nossa amizade e confiança que tínhamos. É uma pessoa que vai deixar saudade não só ao futebol, mas na sociedade. Era um exemplo de bom homem, leal, frontal e amigo do amigo. Hoje, não é fácil encontrar pessoas como o míster.”

O presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, deixa também a sua mensagem de condolências, pelo falecimento do treinador e ex-jogador Vítor Oliveira:
“O Vítor Oliveira era um dos nossos, sempre do lado dos jogadores e do futebol. Era um homem bom e um amigo. Perguntamos muitas vezes porque partem as pessoas, mas pouco porque vieram. O Vítor veio fazer a diferença nas nossas vidas. Veio acrescentar, mobilizar, deixou ensinamentos e bondade. Saibamos honrar a sua memória, hoje e sempre. Condolências à família.”

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