Um dia perfeito


Fausto foi pai, marcou um hat-trick e festejou a confirmação do primeiro lugar do Anadia.

Com três golos na vitória por 4-0 frente ao Beira-Mar, Fausto ajudou e muito a garantir que o Anadia podia comemorar o primeiro lugar da série a uma jornada do fim e, consequentemente, a passagem à próxima fase: o playoff de acesso à Liga Portugal 2.

O extremo de 34 anos viveu um dia perfeito: desde o nascimento do seu filho à meia-noite, até à festa do Anadia, só houve tempo para celebrações.

De regresso a um clube que conheceu no início da carreira, e depois de várias passagens pelo estrangeiro, Fausto já está a preparar o futuro, sendo professor de Educação Física em Miranda do Corvo, após ter aproveitado os serviços do Sindicato.

Enquanto não cumpre o sonho de atingir o marco dos 200 jogos na Segunda Liga, vai brilhando no Campeonato de Portugal, onde foi escolhido como Craque da Semana pelo Sindicato dos Jogadores.

Fizeste três dos quatro golos no último jogo e o Anadia garantiu o primeiro lugar da série. Um hat-trick é a melhor maneira de festejar a presença no playoff de acesso à Segunda Liga?
É assim, naturalmente foi um dia cheio de emoções. Foi um festejar desde a meia-noite, para ser sincero, foi isso que aconteceu. Nós estávamos em estágio e tive de sair porque o meu filho nasceu à meia-noite e pouco, depois de manhã fui jogar, tinha dormido pouco, mesmo assim marquei três golos, o Anadia subiu, está no playoff de acesso à Liga Portugal 2, esses três golos acabaram por me deixar como o melhor marcador da série e isto tudo…. Foi um dia de festejos! Nem nos meus melhores sonhos imaginava um dia assim. O dia 3 de abril de 2021 vai ficar marcado para sempre.

Nos últimos dois jogos marcaste cinco golos, e se alargarmos aos últimos cinco jogos, no total foram sete remates certeiros. Há fases em que parece que sai quase tudo bem?
É verdade. Há fases em que parece que sai tudo bem, mas isto coincide com o bom momento da equipa. Todos estamos focados e estamos bem. Acho que o segredo do sucesso individual é o sucesso coletivo. O sucesso coletivo é quando os jogadores se comprometem com algo que lhes é proposto, onde todos remam para o mesmo lado e independentemente do resultado, porque há sempre resultados positivos e negativos, acreditam e não fogem daquele caminho traçado.

O Anadia foi um dos teus primeiros clubes enquanto sénior. Agora estás de volta, 13 anos depois. Ficou alguma ligação emocional ao clube que levou ao teu regresso?
Quando o Anadia me contactou para voltar, eu não hesitei porque foi aqui o meu segundo ano como sénior, onde dei o salto para a Primeira Liga búlgara e a partir daí fiz uma carreira interessante. Mas sim, fica sempre um sentimento. Aliás, fica sempre um sentimento pelos clubes onde passei, é normal.

Estiveste no estrangeiro por quatro vezes na tua carreira: na Bulgária, Chipre, na Suíça e no Cazaquistão. Qual foi a experiência de que mais gostaste?
Gostei de estar em todo o lado. Claro que a Suíça é um país espetacular a todos os níveis. Os outros não estão tão evoluídos como a Suíça ou até Portugal, obviamente, mas tentei sempre crescer, não só como jogador, mas como pessoa. Acho que as experiências que passei em todos os países onde estive foram fundamentais para o meu crescimento.

O Anadia vai agora lutar por um lugar na Segunda Liga, onde tu já fizeste 167 jogos. Chegar aos 200 é um objetivo pessoal?
Claramente. Eu gostava muito de voltar à Segunda Liga. Se sentisse que não tinha condições para o fazer, nem pensava nisso, até porque tenho já um curso em Educação Física, mas ainda me sinto capaz. Gostava muito de atingir a marca dos 200 jogos, era fantástico.

Quando é decidiste que querias tirar um curso superior?
Eu sou de Coimbra, uma terra de estudantes e até cheguei a entrar na Universidade de Coimbra. No entanto, como fui para fora novo, não consegui conciliar e dediquei-me à carreira de jogador. Quando regressei a Portugal comecei a pensar mais nisso e acabei por tirar o curso de Ciências da Educação Física e Desporto. Sabia que o Sindicato tinha uma parceria com o Instituto Superior da Maia (ISMAI) e acabei por entrar para lá, através dessa mesma parceria. Costumo dizer que, se soubesse o que sei hoje, tinha tirado o curso mais cedo.

E esse é um conselho que costumas dar aos teus colegas mais novos?
Sem dúvida nenhuma. Até porque isso (tirar um curso) acaba por ser um refúgio à carreira de jogador, porque nós treinamos de manhã e passamos o dia a pensar no que fizemos no treino, no que fizemos no jogo e muitas vezes não é bom estarmos sempre a pensar no futebol. Acho que é um refúgio muito bom, que te abre muitas portas e a carreira de jogador nem sempre é certa.

Pela escolha do curso, presumo que queiras continuar ligado ao futebol…
Exatamente, é o meu objetivo continuar ligado à modalidade quando terminar a minha carreira. Neste momento estou a dar aulas na minha terra, o que é muito engraçado. Estou a dar aulas de Educação Física a crianças em Miranda do Douro.

É uma coisa que te imaginavas a fazer?
Sinceramente, não. Ainda estou a jogar e não penso muito nisso, mas o que é certo é que apareceu uma oportunidade, concorri e olha, entrei. Dá para conciliar com os horários dos treinos, o que é perfeito. Tem sido giro e muito importante, digo eu, passar esta parte do desporto aos mais novos.

Tens alunos que ficam entusiasmados com o facto de o professor ser jogador de futebol e que queiram seguir o mesmo caminho?
Sim, tenho alguns. Hoje em dia os jogos dão no Canal 11, dão na televisão, e às vezes eles chegam às aulas e falam nisso. “Ah, o professor marcou golo!” e muitos dizem que querem ser jogadores de futebol, o que acaba por ser muito engraçado [risos]. E para mim é muito gratificante passar esta mensagem do desporto. O futebol não é só chutar a bola, há vários valores que o desporto tem, como o trabalho de grupo, a camaradagem, o espírito de equipa, enfim. Dá para passar valores muito bons às crianças através do desporto.

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