Opinião: "Um país inteiro naquele abraço"


Presidente do Sindicato dos Jogadores e a despedida de Portugal do Euro 2024.

No artigo de opinião desta semana, publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, comenta a despedida de Portugal do Euro 2024 e analisa a prestação da Seleção Nacional na competição: 

"Portugal sai do Euro’2024 de cabeça erguida, num grande jogo frente a uma equipa francesa que soubemos ler e desmontar em vários momentos do jogo, sem a eficácia na cara do golo que demonstrámos noutros momentos.

O derradeiro agradecimento vai para os jogadores. Portugal é hoje uma potência ao nível das seleções porque tivemos gerações consecutivas a elevar a fasquia e um trabalho inexcedível desde a base. Lideram o grupo dois gigantes, Cristiano e Pepe, que contribuíram como poucos para este processo evolutivo.

O seu espírito competitivo é notável e a sua liderança, ao contrário do que muitos dizem, tem sido a chave para a integração e afirmação de muitos jovens talentos na Seleção. Vi naquele abraço entre ambos no final do jogo um bonito gesto de reconforto, um país inteiro refletido na imagem que conjuga tristeza, coragem e espírito de missão.

Muito por força daquilo que passámos a ser, cada adversário potencia ao máximo as suas forças para bloquear o perigo ofensivo que representamos. Os blocos baixos e a quase obsessão pela contenção do nosso jogo retirou algum espetáculo que podíamos ter trazido a este Europeu. Fizemos o nosso caminho, cometemos certamente erros que fazem parte e só acontecem a quem tem a oportunidade de estar lá dentro. Neste jogo que ditou o fim da caminhada, conseguimos jogar o nosso melhor futebol, alimentando um sonho interrompido pela lotaria dos penáltis.

É também curioso que este Europeu não tem revelado as estatísticas próprias das superestrelas. Chega a ser difícil em muitos jogos encontrar um jogador acima das expectativas. Não creio que a razão seja uma qualidade de jogo e intensidade demasiado altas, mas antes a falta da capacidade de explosão e da espetacularidade que resulta do talento, da melhor forma física e do discernimento dos jogadores. Dificilmente conseguimos esta mistura perfeita no final de uma época cravada por demasiados jogos e minutos nas pernas, ainda que muitos continuem a considerar a sobrecarga competitiva um mito.

A vida continua e arranca esta segunda-feira a 22.ª edição do Estágio do Jogador. Quero deixar um agradecimento público ao Paulo Lopes por ter aceitado liderar a equipa técnica deste ano. Temos tido a felicidade de encontrar treinadores que aliam às suas competências técnicas a vertente humana, dispensando o seu tempo para ajudar jogadores sem clube, num momento decisivo das suas carreiras. No Estágio não cuidamos só da preparação física e mental, proporcionamos um espaço de aprendizagem conjunta.

À minha equipa, a todos os parceiros que se associaram a nós e aos participantes que acreditam na forma genuína como continuamos a desenvolver este projeto, fica o meu profundo reconhecimento. Para os que permanecem à espera que o telefone toque, sem um sítio para treinar, fica o apelo para que procurem esta experiência."

Partilhar