Opinião: "FIFA (not) Fund"


Presidente do Sindicato dos Jogadores e o incumprimento do organismo máximo do futebol mundial.

No artigo de opinião desta semana publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, comenta o atraso no pagamento da quarta e última prestação do FIFA Fund aos futebolistas lesados pela insolvência ou extinção dos seus clubes: 

"Existem temas que incomodam pela forma como se exploram os mais fragilizados para obter ganhos políticos. Sou talvez dos poucos dirigentes que em temas como os calendários internacionais ou o sistema de transferências sempre fez questão de não diabolizar o organismo máximo do futebol mundial e repartir a responsabilidade por todos os organismos que se furtam ao diálogo, cooperação e respeito pelos direitos dos jogadores.

No entanto, em relação ao FIFA Fund é impossível não identificar a FIFA como única responsável do problema gerado pelo atraso no pagamento do quarto e último período de candidaturas aprovadas. A explicação só pode estar na punição à FIFPRO, entidade responsável pelo acordo que levou à criação deste mecanismo. Certamente que as iniciativas recentes na defesa dos direitos dos jogadores, entre as quais a queixa na Comissão Europeia relativa aos calendários e o ‘caso Diarra’, contribuíram para este episódio lamentável.

Além de ser absolutamente injusto para os trinta e cinco jogadores que, em Portugal, aguardam há mais de um ano pelo pagamento, é tremendamente frustrante que os pedidos de informação constantes, apresentados pelos próprios, não sejam sequer respondidos. Decidi, por isso, fazer um apelo público ao presidente Gianni Infantino, que conheço pessoalmente e respeito, para que saiba separar os conflitos pessoais ou institucionais de um mecanismo que foi criado com total justiça e racionalidade para proteger jogadores lesados pela insolvência ou extinção dos seus clubes, os quais não têm a mínima participação nas disputas de poder que afetam o futebol mundial. Tentar ser forte com os fracos é um ato que só envergonha quem o pratica.

Mudando para assuntos bem mais positivos, acompanhei esta semana o lançamento pela Federação Portuguesa de Futebol do segundo programa de bolsas de estudo para jogadoras da Liga BPI, em parceria com o BPI e Fundação ‘La Caixa’. Este projeto permitirá o apoio a mais vinte candidatas no próximo ano letivo. Fiquei, igualmente, satisfeito por saber que o excelente programa ‘Second Half’ será implementado em Portugal. Não há dúvida de que a Federação tem feito muito mais do que dar estrutura e incentivos financeiros à competição. A preocupação com o presente e futuro das jogadoras, para que não se repitam os erros do futebol masculino no caminho para a profissionalização, é evidente.

O Sindicato tudo fará para acompanhar este apoio às jogadoras, no seu projeto de carreira dual, desenvolvimento pessoal e transição. Internamente, acabámos de o fazer com a Matilde Fidalgo, que se junta à Carla Couto e à Micaela, a quem auguramos um futuro promissor. É assim que se preparam as próximas gerações, para as quais integrar estruturas diretivas ou exercer funções no futebol não será uma questão de quotas, mas antes de mérito e resultado das oportunidades criadas."

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