Opinião: "Desporto: o parente pobre"


Presidente do Sindicato dos Jogadores e a importância dada ao setor no Orçamento de Estado.

No habitual espaço de opinião semanal, publicado no Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, lamenta o tratamento dado ao desporto nas políticas de governação e destaca a regularização das verbas em atraso no âmbito do FIFA Fund: 

"Esta semana realizou-se a primeira reunião do Conselho Nacional do Desporto da presente legislatura. Sete longos meses depois da tomada de posse do Governo, perdemos várias oportunidades para juntar a massa crítica do desporto e debater temas realmente importantes como, por exemplo, as propostas para o financiamento do setor via Orçamento de Estado.

Não querendo acreditar que foi falta de vontade política, resta concluir que este órgão não tem a importância capital que devia ter na definição da política nacional para o desporto, merecendo uma reformulação ao nível das suas competências. O desporto continua a ser o parente pobre, apesar das declarações de amor que a política lhe vai fazendo. Um órgão desta natureza vale pelos contributos e não pelo número de membros. Senti, ainda, a enorme ausência de José Manuel Constantino nesta sessão, ele que não deixaria de intervir e reivindicar para o desporto o lugar que merece na estratégia de governação.

Se existe lição que o acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia deixa ao desporto europeu no ‘caso Diarra’, e não apenas ao futebol, é que os praticantes desportivos não podem servir de corpo presente nos processos de tomada de decisão, nem os seus representantes servir como entidades a consultar. Sobre as matérias que lhes dizem respeito, na esfera social, laboral e desportiva, devem poder participar, influenciar e decidir, o que só pode acontecer se a representatividade for levada a sério em todas as esferas de intervenção.

Em relação ao FIFA Fund, chegou ao fim a espera dos jogadores portugueses que aguardavam pelo pagamento da última tranche, retida sem justificação pela FIFA há mais de um ano. Foi uma vitória do bom senso e da diplomacia, devolvendo alguma justiça a 35 jogadores apoiados pelo Sindicato dos Jogadores nesta última ronda. Ter um mecanismo como este, que responde quando os clubes são declarados insolventes e deixam de competir, foi uma das melhores iniciativas que vi serem realizadas no plano internacional e uma boa prática que devia manter-se, compensando os principais lesados pela incapacidade de regulação e licenciamento dos clubes.

Como tenho recebido muitos contactos sobre o tema, aproveito para esclarecer que, neste momento, não existe acordo para a renovação do mecanismo, algo que a FIFPRO, em representação dos jogadores, vai continuar a promover no diálogo com a FIFA e demais stakeholders. No fundo, pede-se que o ‘futebol indústria’ canalize receitas para compensar os danos colaterais do sistema que criou."

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