Opinião: “Não é apenas o futuro: o presente já é delas”


Presidente do Sindicato dos Jogadores e a afirmação do futebol feminino em Portugal.

No artigo de opinião desta semana, publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, analisa a afirmação do futebol feminino em Portugal e o que ainda falta percorrer pela igualdade de tratamento e oportunidades:

"O Dia Internacional da Mulher é um momento simbólico que relembra as conquistas e mostra o caminho que ainda falta percorrer pela igualdade de tratamento e oportunidades. No futebol elas lutaram muito. Enfrentaram, num passado já bem longínquo, o enorme preconceito social associado à ideia de que uma mulher podia fazer a sua carreira profissional no futebol.

Conquistaram, passo a passo, esse número recorde das 20 mil praticantes em Portugal. Seguem firmes, na esperança de que o termo feminino, teimosamente escrito a seguir à palavra futebol, não atrase um progresso que é inevitável, das academias ao futebol sénior, dos clubes à Seleção. Elas são qualificadas, persistentes, competentes e multifacetadas. Querem mais do que palavras de conforto ou espaço mediático. Ambicionam um contrato de trabalho com condições dignas e poder seguir o sonho sem ter de enfrentar os desafios do alojamento precário ou atraso nos pagamentos. Precisam de melhores balneários, espaços de recuperação, equipamentos e assistência médica adequada, horários de treino compatíveis com os demais desafios diários, campos e estádios que permitam aplicar tudo aquilo que resulta do seu trabalho árduo, locais seguros, livres do assédio, onde possam ser mães e ter flexibilidade para, sendo gestantes ou não, poderem acompanhar o crescimento dos seus filhos.

Elas não são de outro planeta, só que durante muito tempo viram as suas necessidades ignoradas. Hoje falamos abertamente dos desafios da maternidade, da necessidade de adequar o plano de trabalho às exigências do ciclo menstrual, da importância de estudar os motivos pelos quais existe uma enorme incidência de lesões ligamentares nas jogadoras, ou as razões que levam a um abandono prematuro da carreira.

Sou um privilegiado porque consegui juntar no Sindicato dos Jogadores mulheres extraordinárias que, todos os dias, encaram o seu trabalho como uma missão e procuram levar a cada jogadora a mensagem de que, por mais difícil que seja a situação, por mais frustrados que fiquemos com atitudes que já deviam estar erradicadas, permanecemos ao seu lado para que nunca tenham de caminhar sozinhas.

À Carla, à Micas e à Matilde, agradeço tudo aquilo que têm feito pela nossa classe. Permitam-me destacar outras três mulheres sem as quais não chegaria onde estou hoje. A minha avó, a minha mãe e a minha esposa, três grandes mulheres que me ensinaram que esta luta nunca será apenas delas, mas de todos os que querem viver numa sociedade justa."

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