Opinião: “Ciclos e contraciclos”

Presidente do Sindicato dos Jogadores e as novas lideranças nas instituições do futebol português.
No artigo de opinião desta semana, publicado no jornal Record, o presidente do Sindicato dos Jogadores, Joaquim Evangelista, analisa as novas lideranças nas principais organizações do futebol português e apela ao respeito pelos jogadores na reta final da época:
"Reinaldo Teixeira é o novo presidente da Liga Portugal e a sua eleição marca um novo ciclo na liderança das duas organizações que tutelam as principais competições do futebol português. Estou certo de que haverá diálogo e cooperação institucional entre a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga, mas não devemos confundir esta necessidade de garantir união com unanimismo.
Continua a ser indispensável apelar ao pluralismo, a que cada organização saiba, no exercício da sua missão, ter voz e agir proactivamente na construção das decisões que vierem a ser tomadas. Lidero o Sindicato dos Jogadores há tempo suficiente para saber que a Liga é uma organização que, na sua bipolaridade existencial entre organizador de competições e associação de empregadores, tem de manter-se forte.
Precisa, no momento atual, de criar as condições económicas, logísticas e sociais necessárias para não perdermos a corrida do desenvolvimento sustentável, com retrocessos ao nível da estabilidade conquistada, que vão impactar centenas de postos de trabalho. Parto esperançoso para o debate com esta liderança, ciente de que não é apenas o processo de centralização dos direitos televisivos, a redução de custos ou a potenciação de receitas que nos tornará melhores.
É preciso olhar para os jogadores, não apenas o talento que conseguimos formar, mas também o que podemos manter em Portugal, se melhorarmos as condições de trabalho e a qualidade das nossas competições. Temas como a estabilidade contratual e financeira, a sua saúde e bem-estar, a proteção em caso de lesão ou doença, a formação e capacitação, ou o apoio à transição de carreira, fazem parte de uma visão moderna que contrasta com algumas práticas que teimam em persistir, pondo em causa o trabalho realizado e o profissionalismo sempre que os resultados não aparecem. Os jogadores merecem respeito pelo que fazem para carregar este país futebolístico às costas.
Quem sempre os respeitou foi Aurélio Pereira, que merece ser lembrado como o grande homem que era, para quem as pessoas não eram descartáveis. Acreditava no trabalho consistente, na dedicação, na educação e apoio adequados para atingir o sucesso. Foi pai de gerações que conquistaram tudo e contribuiu para humanizar, aproximar, eliminar barreiras que para muitos seriam intransponíveis. Honrar o seu legado obriga todos os que têm responsabilidade e exposição pública a respeitar os verdadeiros protagonistas, o que não pode estar dependente de conjeturas ou interesses pessoais."