Um campeão a guiar o meio-campo do Oriental


Depois de nove épocas no estrangeiro, Bruno Aguiar regressou a Portugal.

No meio de um balneário com 25 jogadores onde reina a alegria, há um que se destaca por ter sido o único a sagrar-se campeão nacional em Portugal. Trata-se de Bruno Aguiar, médio de 33 anos que representa o Clube Oriental de Lisboa, em Marvila.

Na cabine do Campo Eng.º Carlos Salema, os futebolistas do Oriental vêem em Bruno Aguiar um exemplo a seguir, um jogador experiente que transmite confiança à equipa. “O Bruno é um líder dentro e fora do campo e temos aprendido muito com ele”, diz Tiago José Mota, médio de 29 anos, no Oriental desde 2009.

Debaixo de um nevoeiro intenso, Bruno Aguiar lidera o grupo de corrida inicial no treino dos lisboetas. A leitura de jogo e os incentivos aos colegas são alguns sinais que demonstram a experiência de um jogador formado no Benfica e que esteve nove épocas no estrangeiro.

“Para além de ser um jogador importante para o grupo, é uma ajuda enorme tê-lo ao nosso lado, pelos conselhos que nos dá e pelos conhecimentos que adquiriu e com quem trabalhou ao longo da carreira. Tem um grande carácter, dá o exemplo e demonstra vontade em todos os treinos”, revela Daniel Almeida, capitão do Oriental.



O futebol entrou na vida de Bruno Aguiar quando tinha apenas oito anos de idade. No dia do seu aniversário, o pai inscreveu-o nas escolas do Benfica, o clube do coração, dando início a uma carreira de altos e baixos, marcada pela conquista de títulos mas também por algumas lesões.

Lesão é uma palavra que afastou Bruno do relvado do Campo Eng.º Carlos Salema entre Agosto e Novembro de 2014. “As lesões são o pior do futebol mas temos de saber conviver com isso. A motivação é o mais importante e enquanto me sentir motivado continuarei a jogar”, diz o futebolista que está longe de pensar no fim da carreira.

“Apesar da minha idade sinto-me bem, aliás, antes da lesão estava a sentir-me muito bem e neste momento já estou recuperado”, garante o médio português que tem Rui Costa como ídolo.

“É o jogador que mais admiro desde pequenino. Gosto da forma como jogava, a maneira de ser dele, é uma pessoa simples e tive o prazer de conviver com o Rui Costa e com a sua família. É o meu ídolo de sempre”, assume.

Agora, é Bruno Aguiar que serve de exemplo para os jogadores mais novos, garante Miguel Paixão, avançado de 30 anos e colega de equipa no Oriental: “O Bruno é uma pessoa humilde e estamos agradecidos pela sua disponibilidade. Os mais jovens têm aprendido muito com ele e vêem que o Bruno ainda tem muito talento e pode jogar numa Primeira Liga. Tudo o que ensina, seja dentro ou fora do campo, é uma mais-valia para quem trabalha com ele”.

Bruno conquistou a Liga Portuguesa, a Taça da Escócia e a Liga e Supertaça do Chipre

Bruno Aguiar estreou-se na Primeira Liga com 20 anos, ao serviço do Gil Vicente, equipa que representou por empréstimo do clube da Luz. Depois da experiência no conjunto de Barcelos, seguiram-se duas temporadas no Alverca, novamente por cedência do Benfica. Bruno ajudou a equipa ribatejana a subir à Primeira Liga na época 2002/03 e em 2004/05 regressou aos encarnados para se estrear com a camisola da equipa principal.

E o actual jogador do Oriental não podia ter tido melhor estreia no clube do coração. A 10 de Agosto de 2004, entrou aos 60 minutos para o lugar de Zlatko Zahovic, na vitória do Benfica por 1-0 sobre o Anderlecht, em jogo da primeira mão da terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, que ficará para sempre na sua memória. “Foi um sentimento especial porque jogar na Champions é o sonho de qualquer futebolista”, confessa o médio nascido no bairro do Grilo, em Camarate.

Nessa época, Bruno Aguiar sagrou-se campeão nacional, conquistando o título mais importante da sua carreira. “Dos quatro que conquistei, foi claramente o que teve mais significado para mim. Por toda a envolvência, por ser o clube que é e por não ter conquistado o título nos últimos 11 anos. O Benfica é o maior clube de Portugal e chegar às cinco da manhã e ter o Estádio da Luz cheio é algo que nunca irá sair da minha memória”.



Depois do Benfica seguiu-se uma curta experiência (por empréstimo) no Kaunas, da Lituânia, onde nunca chegou a jogar, desvinculando-se dos encarnados em 2006 para ingressar nos escoceses do Hearts.

A passagem pelo futebol escocês fica marcada por uma lesão grave, que obrigou Bruno Aguiar a submeter-se a três cirurgias e a um ano e meio de inactividade. “Foi uma fase difícil, até chegou a ser colocada a hipótese de não voltar a jogar futebol porque foi detectado um tumor benigno no pé. Felizmente fui operado por um médico em Londres e depois desse mau momento fiz a melhor época da minha carreira. É caso para dizer que há males que vêm por bem”.

Em 2008/09, Aguiar marcou sete golos em 26 jogos com a camisola do Hearts, mas há uma partida que nunca mais irá esquecer. Na recepção ao Celtic de Glasgow [o encontro da 32.ª jornada terminou empatado a um golo], o Hearts começou o jogo a perder com um golo de Vennegoor of Hesselink no primeiro minuto, mas Bruno Aguiar acabaria por repor a igualdade ao minuto 32’ na cobrança de um livre directo, naquele que foi “o melhor golo da carreira”.



Durante os nove anos consecutivos em que esteve no estrangeiro seguiu-se o Omonia, do Chipre, no percurso futebolístico de Bruno Aguiar. Tal como no Benfica, Aguiar sagrou-se campeão tendo novamente ajudado a sua equipa a colocar um ponto final num longo jejum (sete anos sem conquistar o título do Chipre). Esteve no Omonia entre 2009 e 2014, acabando por deixar o Chipre devido aos salários em atraso.

Futuro passa pelos relvados portugueses

Quase uma década depois, Bruno Aguiar decidiu regressar ao futebol português. O médio aceitou o convite do treinador João Barbosa para ingressar no projecto do Oriental, mas admite que a sua primeira opção era jogar na Primeira Liga. “Sou uma pessoa muito ligada a Lisboa, adoro a cidade e sentia uma necessidade imensa de voltar. Se dissesse que a minha primeira opção era o Oriental estaria a mentir, porque a minha prioridade era jogar na Primeira Liga mas não houve essa oportunidade. Estou muito feliz pela opção que tomei e pelo convite que me foi feito por parte do treinador”.

Treinador que faz questão de salientar as qualidades humanas do médio de 33 anos. “O nosso critério na escolha dos elementos para o plantel passa sempre por alguém que acrescente mais ao grupo e o Bruno tem essas características. É um jogador muito humilde, que se tem adaptado bem ao clube e vai continuar a ajudar-nos”, considera João Barbosa, sublinhando que o mais importante “é ver o Bruno feliz a jogar futebol, no clube em que está”.

No futuro, o jogador do Oriental não descarta a hipótese de vir a ser treinador. “Está a começar a nascer esse bichinho, mas ainda não pensei muito nisso. Por agora só penso em jogar e espero continuar mais épocas no futebol português”.

Veja AQUI a entrevista a Bruno Aguiar na íntegra.

Partilhar